"Estamos a falar de uma falta de honestidade política, de planeamento, de antecipar uma realidade para que, de ano para ano, não seja sempre encarada como uma novidade". O psicólogo clínico e forense Mauro Paulino comenta assim as notícias sobre o número muito reduzido de psicólogos colocados nas escolas públicas portugueses.
Numa conversa Ao Vivo na Redação da SIC e do Expresso, Mauro Paulino começa por admitir que o quadro tem vindo a ter alguma evolução nos últimos anos, mas continua a ser insuficiente. Isabel Leiria, jornalista do Expresso e especialista em questões de Educação, concorda que é importante olhar para a escassez de psicólogos escolares, sobretudo num cenário de regresso às aulas depois de uma inédita situação de pandemia. O "sistema ainda está longe dos rácios ideais" fruto de uma desvalorização ou de uma complicada gestão de recursos? Isabel Leiria deixa a dúvida num ano em que outros cenários relacionados com o início do ano escolar levam a conclusões que também não são novas, nem positivas.
Este ano letivo existem menos 140 professores do que no ano passado. Em cerca de 3 mil turmas ainda falta um ou mais professores. E o problema torna-se crónico, sem solução à vista, a partir do momento em que existe desfasamento entre os interesses dos professores candidatos e as ofertas disponíveis, seja por questões de despesas de deslocação ou alojamento.
Mauro Paulino, autor de um artigo de opinião no Expresso sobre o arranque do ano letivo, entende que o investimento na Psicologia ainda é encarado como "uma despesa" e assim se desvaloriza um trabalho que deveria servir para antecipar problemas dentro da comunidade - que depois resultam, por exemplo, em abandono escolar ou bullying e servem para acentuar assimetrias. Afinal de contas, sublinha-se nesta conversa, é tudo uma questão de permitir que todos os alunos "tenham acesso às mesmas oportunidades".
Início das aulas: 3 mil turmas têm falta de professores e escolas continuam com poucos psicólogos
As contas são feitas pelos sindicatos e especialistas e mostram números preocupantes no arranque do ano letivo: menos 140 professores do que no ano passado, quase 700 horários por preencher e um desinvestimento (apesar de alguma evolução) numa área frequentemente pouco valorizada - a psicologia -, que faz bem mais pelos alunos do que orientá-los para o curso a seguir no futuro.

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