Cartaz

MAAT recebe exposições sobre saúde mental e culturas transatlânticas

"Nosso Barco Tambor Terra", do artista plástico brasileiro Ernesto Neto, e "Procissão: Louvar e Santificar", em parceria com o projeto Manicómio, já podem ser vistas no Museu Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.

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Inspirado na partida das caravelas portuguesas que rumaram às Américas, "Nosso Barco Tambor Terra" representa o cruzamento de culturas entre os seis continentes.

Através dos tambores presentes na obra, é possível interagir com a maior escultura criada pelo artista plástico brasileiro Ernesto Neto que ocupa agora a Galeria Oval do MAAT.

"É uma escultura que traz o corpo e a cultura. O corpo, que é o corpo planta, o corpo bicho, o corpo terra. Essa continuidade entre nós e o corpo da terra. E essa separação, que aqui aparece na figura do tambor. A gente tem uma variedade de tambores simbolizando essa pluralidade, essa multiculturalidade e a multinaturalidade do planeta terra", explica Ernesto.

A obra foi feita a partir de "chita", um tecido usado no Brasil, com estampagens de cores fortes. Ao longo da exposição sente-se no ar o cheiro de especiarias de todo o mundo, como cravo, cominho, açafrão, pimental e canela.

A exposição com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti pode ser vista até dia 7 de outubro no MAAT Gallery.

Ao lado, no MAAT Central, surge "Procissão: Louvar e Santificar", uma exposição com obras feitas pelos artistas residentes do projeto Manicómio. Nascido em 2018, é um espaço de criação artística para pessoas com problemas de saúde mental.

"É um chamado de ajuda. Eles foram todos bordados em lençóis do Júlio de Matos", explica Micaela Fikoff, artista plástica residente no Manicómio.

"É a travessia de uma pessoa que tem doença mental e que tem de conviver diariamente com as suas inquietudes, dores e angústias. Ter doença mental é o morrer e o ressuscitar diário. É um caminho longo, sofrido, mas que a gente tem de acreditar. Eu acho que a Procissão é isso também".

"Eu desenho quando estou mal, quando ouço as vozes", aponta Anabela Soares, uma das autoras das peças apresentadas na exposição. "Eu vivo na escuridão, é o meu mundo. Desde que eu entrei para o Manicómio eu fui iluminada".

"É um caminho que temos feito ao longo de 25 anos, agora com o Manicómio há cinco, onde temos mostrado e provado que o valor destas pessoas é muito mais importante que a doença. E estes artistas, além de artistas, são ativistas nesta área. Nós temos fragilidades como qualquer outra pessoa, assumimo-la, agarramos nela e transformamo-la em algo muito positivo", explica Sandro Resende, co-criador do Manicómio e curador de "Procissão: Louvar e Santificar".

A exposição pode ser vista até agosto no MAAT Central.