O homem que teve capacidade para pagar quase 20 mil euros de uma só vez para alugar uma casa tornou-se num “pesadelo” para os proprietários da moradia. Quando o contrato chegou ao fim não pagou nem mais um cêntimo e ali ficou mais 10 meses. Transformou a casa num acumulado de lixo e destruição. Foi preciso quase um ano na Justiça para conseguir um mandado de despejo.
No dia em que as autoridades meteram a chave na porta descobriram um “problema maior”. Duas crianças de 14 e 16 anos. Sem pai nem mãe. Sem qualquer adulto por perto. Abandonadas à própria sorte.
A GNR de Vila Verde foi chamada. As duas crianças disseram viver com o pai e um irmão mais velho, com cerca de 20 anos, que há dois meses tinha viajado para os Estados Unidos.
Suspeitas de crimes graves
Assim se soube que as duas meninas estavam há quase dois anos na casa sem nunca terem sido vistas pela vizinhança. O autocarro escolar passa todos os dias à porta da vivenda, mas os dias das duas adolescentes eram passados em casa.
Na casa onde estavam as duas crianças abandonadas a GNR encontrou também duas câmaras de filmar, lentes e vários cartões de memória. O material adensou as suspeitas de crimes graves, como abusos sexuais, pornografia ou rapto com videovigilância. Foi tudo apreendido e levado para a esquadra da GNR.
Por toda a casa estavam espalhados dezenas de extratos de compra e venda de moedas de coleção. Dentro de várias caixas de vinho foram encontradas centenas de moedas de coleção.
Parte das moedas de ouro estariam escondidas na cozinha onde não faltava nem comida nem álcool. As meninas foram deixadas com a despensa e o frigorífico cheios. Carne e peixe congelado, muitos cereais, sumos de fruta, leite e guloseimas. Alguma comida já estava fora de validade.
Abandono? Maus-tratos?
De acordo com o psicólogo clínico e forense, Mauro Paulino pode estar em causa uma situação de exposição ou abandono, mas também perante um crime de maus-tratos.
O pai das duas menores tem 69 anos e nasceu na Eslováquia mas também tem passaporte norte-americano. À GNR as crianças confessaram que a família passou pela Finlândia de onde fugiram porque estavam prestes a ser afastadas do pai.
O norte-americano deixou a aldeia de Covas, mas continua a tentar recuperar a guarda das filhas. Contactamos o pai das meninas, por chamada e por mensagem, mas nunca respondeu. Também o advogado recusou falar com o Casos de Polícia.
As duas crianças foram encaminhadas para uma instituição de solidariedade social e o caso está agora nas mãos do Tribunal de Família e Menores de Braga que deverá decidir se este pai tem condições para continuar a viver com as filhas.