Seja na escola, quando se escolhem os parceiros para as brincadeiras em equipa, seja já na idade adulta, na seleção de candidatos ao emprego, os efeitos práticos do preconceito existem e passam de pais para filhos.
Muitos dos problemas relacionais e amorosos resultam diretamente da discriminação gerada pela condição física. Numa experiência feita nos Estados Unidos entre um assassino, um ladrão e um gordo, centenas de jovens escolheram o que prefeririam. “Por incrível que pareça, o gordo foi o último a ser escolhido. Portanto, é preferível casar com um assassino ou com um fulano agressivo do que com um gordo que até pode ser boa pessoa”, explica Carlos Oliveira, da Associação de Obesos e Ex-Obesos.
A acumulação de tecido adiposo em excesso é condição fértil ao avanço de estigma social, problema por vezes mais difícil de tratar do que as doenças associadas à obesidade.
Nos últimos 40 anos, a população aumentou 1,5 quilos, em média, por época. Hoje, há mais de 640 milhões de obesos no mundo, 2,3% de homens e 5% de mulheres com obesidade grave.
Há 40 anos, um dos problemas de saúde, sobretudo nas classes mais pobres, era a falta de peso. A situação de magreza causada pela subnutrição afetava uma grande fatia da população. Hoje, o consumo excessivo de alimentos superenergéticos e dietas caóticas leva à obesidade. Como dizia há dias numa crónica de rádio o psiquiatra Júlio Machado Vaz, “o chocolate é um dos principais antidepressivos”. Dá a ilusão de que resolve questões amorosas e outras, mas acaba por acrescentar, quase sem se dar por isso, uns quilos à condição física. No entanto, é preciso não esquecer as condições biológicas e genéticas e essas quase nunca são consideradas quando à partida se está disposto a julgar e a criticar alguém gordo.
Obesidade pode ser sinónimo de problema de saúde grave mas é seguramente sinónimo de sofrimento escondido e de estigma social, seja na rua, na praia, na escola, no emprego, nas lojas de roupa.
Carlos Oliveira, da Associação de Obesos e ex-Obesos, não tem dúvidas: ser gordo é ter “um carimbo na testa”, afirmou esta semana à revista Visão, que dedicou algumas páginas ao tema de destaque o segundo programa E SE FOSSE CONSIGO?, que vai para o ar, segunda feira, na SIC. O programa de Conceição Lino vai, mais uma vez, confrontar os espectadores com o seus próprios preconceitos. Na primeira emissão, tratou de racismo, na segunda, vai mostrar até que ponto os gordos são discriminados, numa sociedade em que o “culto do corpo” é uma imposição social.
O debate está lançado e sobre ele todos têm opinião, como Sérgio Cruz, pasteleiro em Lisboa.