O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, afirmou na terça-feira que a sua intenção não era ofender, mas sim "honrar a coragem" do antigo ministro Jorge Coelho, que se demitiu logo após a queda da ponte de Entre-os-Rios, em março de 2001.
"A minha intenção era elogiar Jorge Coelho, um homem de coragem e que teve a coragem de assumir a sua responsabilidade política naquela altura, perante factos, numa situação muito diferente daquela que estamos a viver hoje", declarou aos jornalistas, após uma reunião da assembleia municipal em que foi chumbada uma moção de censura apresentada pelo Chega, na sequência do desastre no Elevador da Glória, que provocou 16 mortos e 22 feridos.
No "Importa-se de Repetir?" desta semana, Paulo Baldaia, comentador da SIC, considerou que Carlos Moedas não assumiu o erro nem pediu desculpa, tendo, pelo contrário, adotado um tom irónico ao afirmar que pretendia elogiar Jorge Coelho. Na sua opinião, o presidente da câmara tentou evitar reconhecer qualquer falha, utilizando uma retórica marcada por ironia e ambiguidade.
"Ele não assumiu o erro, nem pediu desculpa. Foi aliás irónico ao dizer que pretendia elogiar Jorge Coelho", disse.
"Carlos Moedas falhou e não consegue reconhecer que falhou", acrescentou.
Também o antigo vereador da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, criticou a comparação com Jorge Coelho, classificando-a como "muito infeliz". Para Sá Fernandes, a atitude do atual presidente da autarquia não foi surpreendente, tendo em conta o seu historial de atuação política.
A comentadora Ângela Silva considerou "evidente" que Moedas percebeu o impacto negativo das suas declarações e procurou corrigir o rumo. Ainda assim, questionou por que motivo o presidente da câmara decidiu invocar o nome de Jorge Coelho naquele contexto, classificando a escolha como desnecessária e mal pensada.
Já Bernardo Ferrão concordou que "Carlos Moedas esteve mal", mas apontou uma possível explicação de natureza política para o seu comportamento. Na sua análise, o autarca poderá estar preocupado com a eventual desmobilização do seu eleitorado e, nesse sentido, poderá estar a tentar polarizar o discurso para reativar a base que o elegeu.
"Fernando Medina perdeu a eleição porque houve desmobilização do seu eleitorado e Carlos Moedas pode estar preocupado com isso", afirmou
"Importa-se de Repetir?" é o novo espaço de análise política da SIC Notícias, com Bernardo Ferrão, Ângela Silva e Paulo Baldaia, emitido todas as quartas-feiras na Edição da Noite. Em cada episódio, uma declaração da atualidade que tenha gerado dúvidas ou causado perplexidade é escolhida para debate e reflexão.