O que no passado se encarava como perda de juízo, arteriosclerose ou simples consequência da idade é hoje reconhecido pela medicina como demência. Implacáveis na perda das capacidades mentais, o Alzheimer e as outras duas demências identificadas pela ciência - demência Fronto-Temporal e demência dos Corpos de Levy - levam os doentes para um caminho sem retorno de isolamento e dependência.
O centro de dia da Associação de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer é o único em todo o país sem fins lucrativos. O único cuja mensalidade está ao alcance de todos os orçamentos. Tem uma lista de espera de mais de dois anos.
Entre a falta de respostas estatais e as altas mensalidades das instituições privadas - que descobriram as fragilidades do Estado nesta matéria - as famílias estão condenadas a lidar sozinhas com doenças demasiado pesadas.
O que provoca a morte celular que conduz às demências é ainda um mistério para a ciência: por enquanto só estão identificadas as alterações que estas doenças vão impondo ao cérebro - e sem conhecer as causas não é possível chegar à cura.
Sabe-se apenas que está menos exposto às demências quem tem mais actividade intelectual: quem pratica a leitura e a memorização, quem fala mais línguas, quem - nas palavras do neurologista Alexandre Castro Caldas - tem mais "exigência mental" .
Não têm e talvez nunca venham a ter cura, mas as demências podem ser vividas de uma forma mais digna para os doentes e para as famílias.
Os poucos exemplos que confirmam a regra que o Estado devia seguir provam que demências como o Alzheimer - cuja incidência cresce com a esperança média de vida - não têm de condenar ao isolamento, ao preconceito e à exclusão.
Susana André
Jornalista
Jornalista: Susana André
Imagem: Jorge Pelicano
Edição de Imagem: Marco Carrasqueira
Grafismo: Paulo Alves
Produção: Isabel Mendonça e João Nuno Assunção
Coordenação: Daniel Cruzeiro
Direcção: Alcides Vieira