Grande Reportagem SIC

1ª Parte

"Vi crianças decapitarem crianças"

Durante os três anos de domínio extremista, o Daesh terá raptado entre 500 a 600 crianças. Algumas eram ainda bebés e acabaram por ser submetidas a uma violência atroz, educadas para adquirirem uma nova identidade, treinadas para dispararem, para fazerem ataques suicidas, para encararem os pais como inimigos. Na primeira parte de "Crianças do Daesh", o correspondente da SIC, Henrique Cymerman, revela os traumas que ficam das infâncias roubadas.

Veja aqui a primeira parte da Grande Reportagem SIC "Crianças no Daesh - Infância roubada"

AS VÍTIMAS MAIS INOCENTES

O grupo extremista foi responsável por estragos incalculáveis, a nível patrimonial mas principalmente a nível psicológico. Nesse aspeto, as crianças foram as vítimas mais inocentes.

A Grande Reportagem, da autoria de Henrique Cymerman, leva-nos numa viagem elucidativa de uma realidade cruel, à qual não escaparam centenas de menores.

Alaa Al-Marjani

TRAUMAS PARA UMA VIDA QUE MAL COMEÇOU

Muitas destas crianças carregam traumas que vão durar uma vida inteira, com a emoção a apoderar-se de cada momento em que são forçadas a recordar cada segundo de sofrimento.

Akram, de apenas 10 anos, lembra-se do instante em que foi atingido a tiro por militantes do Daesh. Ficou ferido em várias zonas do corpo.

Maya Alleruzzo

A lucidez com que Akram recorda cada momento de terror é indisfarçavelmente controlada pela força de uma criança que recusa ceder e mostrar fraqueza perante o que o Daesh o fez passar.

Maya Alleruzzo

"VI CRIANÇAS DECAPITAREM OUTRAS CRIANÇAS"

"Havia muitas crianças que participavam nas batalhas, mas quase todas morriam e eram ali enterradas", recorda o pequeno Akram.

"Vi crianças a decapitarem outras crianças. Disseram-nos que depois de decapitar devíamos pôr as cabeças atrás dos corpos. Disseram também para deixarmos os corpos visíveis para os cães os comerem", acrescenta.

Apesar da força mental de Akram, a sinceridade de uma criança de apenas 10 anos acaba naturalmente por imperar e surgem aí as primeiras revelações do trauma sempre presente.

Maya Alleruzzo

"Tenho pesadelos sempre com o Daesh e não os consigo esquecer", diz Akram, entre olhares que fogem à pergunta do Henrique Cymerman, numa luta desigual contra um trauma permanente.

AS MARCAS QUE O TEMPO NÃO APAGA

Akram foi adotado no campo de refugiados de Mossul mas a vigilância tem de ser constante devido ao receio de que manifeste comportamentos violentos com outros membros do campo, dadas as situações a que esteve exposto.

Num passado recente, depois de terem sido resgatadas, algumas tentaram destruir o campo e até estrangular outras crianças enquanto dormiam.

Alaa Al-Marjani

Como Akram, muitas crianças tentam distanciar-se física e psicologicamente de marcas que o tempo nunca vai apagar.