Entre dezembro de 2019 e setembro de 2020, 97 marroquinos desembarcaram ilegalmente em praias do Algarve.
O sonho de chegar à Europa e de ter uma vida melhor levou-os a cruzar o Oceano Atlântico e a navegar entre 45 e 50 horas em pequenos barcos de seis metros.
Quase todos adultos muitos jovens, mas também menores. E mulheres. Uma delas saiu de Marrocos grávida para fugir à vergonha de ser mãe solteira. Lá, as relações sexuais fora do casamento são criminalizadas e as mães solteiras são maltratadas, discriminadas e rejeitadas pelas famílias.
A reportagem da SIC encontrou-a já mãe, a viver de um pequeno subsídio e envolvida na teia de uma justiça lenta que tarda em dizer-lhe se pode ou não ter estatuto de refugiada e trabalhar.
Dos 97 clandestinos, 67 pediram asilo. Nenhum o conseguiu. Têm quase todos ordem de afastamento coercivo do país. Mas só oito regressaram a Marrocos.

Marina Portugal, diretora do Gabinete de Asilo do Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
A reportagem da SIC foi à procura dos que ficaram Muitos já não estão em Portugal. Viajaram para outros países europeus onde têm familiares.
Dos que ainda cá estão, uns continuam à espera da resposta dos tribunais. Outros, desistiram do pedido de asilo e optaram por um contrato de trabalho que lhes permita obter autorização de residência em Portugal.

Os seis barcos onde viajaram partiram de El Jadida, a antiga colónia portuguesa Mazagão. Fica na costa atlântica de Marrocos, a 90 quilómetros a sul de Casablanca Está classificada pela Unesco e é uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo.
A cidade de El Jadida é a capital de uma província com o mesmo nome e conhecida pela produção de fosfato.
Logo a seguir ao primeiro desembarque em Monte Gordo, no Algarve, as autoridades marroquinas abriram um inquérito e prenderam 23 pessoas. Em Portugal também foi aberto um processo que ainda não está fechado. SEF e Ministério Público investigam crimes de auxílio à imigração ilegal.