Grande Reportagem SIC

"Não é só um problema para as pessoas racializadas, é um problema para o regime democrático"

No âmbito as denúncias feitas na Grande Reportagem "Quando o ódio veste a farda", Mamadou Ba critica o "sentimento de impunidade" que existe perante um problema "endémico e estrutural".

Mamadou Ba
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Mamdou Ba considera que o discurso de ódio e o racismo nas forças de segurança é um problema “endémico e estrutural” que se propaga devido ao “sentimento de impunidade”. O presidente da SOS Racismo sublinha que “ninguém consegue resolver um problema sem enfrentá-lo”.

“Andamos a alertar para a existência da infiltração da extrema-direita há vários anos e há relatórios que existem. Se a própria lei é tão laxista que quase nunca temos uma condenação – nos últimos 20 anos, temos cerca de quatro ou cinco agentes das autoridades envolvidos em atos racistas – isto permeia a impunidade”, disse Mamadou Ba em entrevista à SIC Notícias.

O Presidente da SOS Racismo considera que existe um problema na fiscalização ao ódio dentro das forças de segurança. Afirma que a atuação da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) tem “pecado pela insuficiência ou até pela ineficácia”.

As reações das autoridades à Grande Reportagem “Quando o ódio veste farda”, produzida pelo consórcio de jornalistas de investigação do qual faz parte o jornalista da SIC Pedro Coelho, não são uma surpresa para Mamadou Ba: “parece que estamos a repetir a uma repetição da história.”

“Ninguém consegue resolver um problema sem enfrentá-lo. Este problema dura há tempo de mais. Mesmo que fosse um único elemento apanhado nesta investigação, apenas um agente da autoridade que professasse discurso de ódios ou práticas racistas, seria uma preocupação para as instituições”, afirma.

Mamadou Ba lembra o caso da agressão a Cláudia Simões, que ocorreu em 2020, e as consequentes declarações do diretor nacional da PSP, Manuel Magina da Silva, que negou que o caso tenha tido questões raciais. Critica a falta de “vontade e compromisso” das instituições para combater estas situações.

“Isto não é só um problema para as pessoas racializadas, é um problema para o regime democrático. Porque, a partir do momento que uma instituição que é suposta garantir a segurança de toda a gente, se torna num fator de insegurança, está em causa é a própria ordem, regime e saúde democrático”, remata.