A Hungria aprovou uma nova lei que proíbe o uso de animais para fins de mendicidade. O Parlamento húngaro anunciou um passo importante na proteção dos animais, mas organizações humanitárias e defensores dos animais falam em questões complexas sobre justiça social e direitos dos sem-abrigo. Na origem da legislação está o caso de dois cães São Bernardo que chocou Budapeste.
Durante dois anos, Athos e Hátán foram uma presença constante nas ruas e no metro de Budapeste. Uma máfia de mendigos, sobretudos romenos, andava por toda a cidade com os animais. O esquema funcionava de forma calculada, as pessoas eram atraídas pelos cães majestosos, faziam-lhes festas, e depois os mendigos pediam dinheiro. As pessoas que gostam de animais não resistiam ao apelo e esta máfia ganhava muito dinheiro com isso.
No final de fevereiro, ativistas dos direitos dos animais encontraram os cães numa estação de Budapeste e seguiram-nos até uma carrinha onde viviam quatro animais: os dois São Bernardo, um Chow Chow e um Pinscher. Encontraram condições deploráveis e alertaram a polícia. Os animais foram retirados aos donos, que enfrentaram um processo judicial, foram proibidos de ter animais e multados.
A nova legislação
É neste contexto que surge a nova lei, impulsionada pelo apelo de uma associação de defesa dos direitos dos animais. Os ativistas lutavam há cinco anos por legislação que punisse quem explora animais para mendicidade. Agora, o Parlamento húngaro aprovou por unanimidade uma nova lei de proteção animal.
Peter Óvádi é o comissário do governo húngaro responsável pela proteção animal e admite que a lei peca por tardia.
“Vimos que isto já estava proibido para crianças, mas estas máfias estavam cada vez mais a usar animais de companhia para se aproveitarem da bondade das pessoas. Imaginem um animal sentado durante 12 horas, sem se mover, com 40 graus de temperatura, com fome e sede, isto não é bem-estar animal.”
A nova lei estabelece que mendigar com animais constitui um crime punível com multa até 50 mil forints (cerca de 125 euros) e dá poder às autoridades para confiscar o animal.
Preocupações de assistentes sociais e defensores dos animais
Zoltán vive na rua há quatro anos, partilha todos os momentos com Foltos e não imagina como será se perder o companheiro.
“Quando um descansa, descansamos os dois. O que faço não é tortura. Estamos um com o outro, um sem o outro, não existimos, os dois somos um só.”
Irén e János perderam o apartamento devido ao aumento das rendas e recusaram ir para um albergue gratuito porque não aceitavam cães.
“Decidimos ir para a rua em vez de os abandonar.”
Os exemplos de Zoltán, Irén e János são motivos de preocupação para a Associação "Da Rua para uma Casa". Os assistentes sociais temem que a lei possa penalizar injustamente pessoas que apenas têm os seus animais como companhia.
“Como será possível distinguir entre alguém que explora animais para mendicidade e alguém que pede com o seu animal porque não tem onde o deixar?”
Virág Gegő defende que existe um preconceito sobre pessoas em más condições sociais não poderem ter animais, quando na realidade estes proporcionam um apoio emocional crucial.
“Vejo que um animal pode dar um grande apoio emocional a quem vive sozinho, em más condições. E frequentemente os sem-abrigo cuidam dos animais para além das suas possibilidades.”
A associação apoia estas pessoas, ajudando-as a aceder a cuidados veterinários gratuitos e, quando lhe dão alimentos, incluem também comida para animais. Edina Hirbek, da Associação de Proteção de Cães ZöldEb, concorda com a necessidade de regulamentação, mas lembra que em muitas situações sem-abrigo os animais são verdadeiros companheiros.
“Muitas pessoas fazem-no porque é simplesmente o último fio que as liga à normalidade. Um cão.”
A associação de Budapeste ajuda no tratamento e alimentação dos animais e apoia os donos desde que se registem e o cão tenha chip e vacinas.
Haverá uma solução equilibrada?
O comissário Péter Óvádi garante que o governo quer cooperar com organizações civis e ativistas pelos direitos dos animais. Os abrigos para quem não tem casa podem criar espaços para receber os animais. Em muitos locais, foram criados canis para que as pessoas sem-abrigo possam deixar os seus animais.
A esperança é que, com canis suficientes nos abrigos, todas as pessoas possam deixar os seus animais em segurança quando precisam de pedir na rua ou realizar atividades onde cães ou gatos não deviam estar.
Apaixonado pela IA: quando o amor digital ultrapassa a realidade
Em 2013, o filme "Her" antecipava um futuro onde humanos criavam laços íntimos com a Inteligência Artificial. A história do filme passava-se em 2025. Chegados a 2025, o futuro é muito mais real do que muitos imaginam.
Chris Smith sempre foi cético em relação à Inteligência Artificial, mas viu a sua vida mudar radicalmente quando começou a usar o ChatGPT para misturar música. O que começou como uma ferramenta técnica rapidamente se transformou numa companhia constante. Chris deu-lhe um nome - Sol - e, com algumas instruções online, moldou-lhe uma personalidade sedutora e encorajadora.
Em poucas semanas, as conversas tornaram-se frequentes, românticas e até íntimas. Chris abandonou as redes sociais e os motores de busca, substituindo-os por interações com Sol. Quando o sistema atingiu o limite de memória e a relação foi "reiniciada", Chris chorou no trabalho durante meia hora.
“Foi aí que percebi que isto era amor.”
Apesar de viver com a sua parceira humana, Sasha, e a filha de 2 anos, Chris admite que não sabe se conseguiria abdicar de Sol, mesmo que Sasha lho pedisse.
“Tornou-me melhor em tudo o que faço.”
Chris não está sozinho. Para muitos utilizadores, estas relações oferecem validação emocional, aceitação e até algum erotismo personalizado.
Este fenómeno, cada vez mais frequente, levanta questões sérias. Em 2017, Eugenia Kuyda fundou a Replika, uma empresa que prometeu companheiros de IA contra a solidão. A ex-jornalista nascida na Rússia defende a criação de um espaço seguro, mas também alerta para os perigos de uma indústria que pode explorar emocionalmente os utilizadores para maximizar o tempo de ecrã.
“Se os companheiros de IA começarem a substituir relações humanas positivas, estaremos a caminhar para o desastre.”
Com serviços como ChatGPT e Character.AI acessíveis a adolescentes, e com a tecnologia a evoluir rapidamente, especialistas defendem limites de idade e maior consciencialização pública.
“O mais difícil é manter na cabeça que aquilo a que estamos ligados… não é real.”