Depois dos Estados Unidos e da Nova Zelândia, que foram os primeiros a dar o alarme, uma forte epidemia de vírus sincicial respiratório (VSR) está a atingir a Itália, afetando crianças muito pequenas em todo o país. Os cuidados intensivos pediátricos dos hospitais estão cheios de crianças e bebés com bronquiolite e pneumonia causadas pelo vírus.
De acordo com os últimos números, em Pádua, existem 16 pequenos pacientes, dos quais 4 estão intubados em terapia intensiva e a situação é semelhante noutras regiões.
Em Roma, na Policlínica Umberto I, há 10 internados, dos quais 2, com apenas um mês de idade, estão em tratamento intensivo Também em Milão, na Pediatria do Hospital Buzzi estão hospitalizadas 7 crianças com bronquiolite por vírus sincicial respiratório e 5 com bronquiolite negativa para VSR. Uma menina com bronquiolite por VSR está nos cuidados intensivos.
“Nos últimos 15 dias assistimos a um aumento exponencial das internações por bronquiolite, mesmo as graves, que são consequência do vírus sincicial respiratório”, explicou ao El Mundo Antonino Reale, diretor de urgências pediátricas do hospital Bambino Gesù, em Roma.
“Muitas vezes, os exames mostram a presença de mais vírus, mesmo 3-4, por isso há uma associação de mais patogenos. Atualmente, no hospital Bambino Gesù temos cerca de 15 pacientes recém-nascidos com bronquiolite e 40% têm formas leves. Há 2 em oxigenoterapia", referiu.
Porque existem tantos casos agora?
No inverno passado, enquanto estiveram em vigor confinamentos por causa do novo coronavírus, este vírus VSR esteve como que "adormecido", tendo assim "saltado" uma temporada.
Os especialistas dizem que as crianças podem ser mais vulneráveis do que o normal a vírus respiratórios e infecções sazonais porque não foram submetidas a patogenos durante os confinamentos. E as mães, que transmitem anticorpos contra o VSR pela placenta, também têm uma concentração menor de anticorpos depois de passar o inverno em casa.
Por isso, o vírus, que voltou agora circular, está a causar casos mais graves.
O vírus sincicial respiratório, se contraído nos primeiros meses de vida da criança, provoca formas graves de bronquiolite, com manifestações nas vias respiratórias inferiores, enquanto nas crianças mais velhas e nos adultos se resolve com sintomas ligeiros, como nasofaringite, febre ou tosse.
Mas os recém-nascidos muitas vezes são protegidos por anticorpos maternos que "passam" pela placenta, o que não está a acontecer agora.
“A epidemia que costuma chegar em dezembro-janeiro começou com 2 meses de antecedência. Durante um ano e meio o vírus não circulou graças a medidas anti-Covid (lavagem das mãos, máscaras e distanciamento social). Mas quanto essas medidas foram relaxadas, os irmãos mais velhos voltaram ao jardim de infância ou à escola, e com uma população sem anticorpos, o vírus começou a circular, imediatamente e mais cedo do que o normal, e está causar formas graves nos mais novos ”, afirma Fabio Midulla, presidente da Sociedade Italiana de Doenças Respiratórias Infantis (Simri).
Quem corre maior risco?
O vírus sincicial respiratório foi isolado em 1956 e é um dos vírus respiratórios que mais circulam no mundo, principalmente no inverno. Afeta bebés nos primeiros meses de vida e idosos com múltiplas patologias em todas as idades de forma mais grave. Em crianças com menos de um ano de idade, pode causar bronquiolite e apneias. Também existem populações em risco, como crianças com doenças cardíacas graves ou prematuridade ou que têm problemas de desenvolvimento neurológico. Em pessoas idosas com comorbidades, é um vírus perigoso como o Sars-CoV-2.
No mundo existem 33 milhões de infeções respiratórias por ano que afetam crianças menores de 5 anos e 20% estão associadas ao vírus sincicial respiratório, com 3 milhões de hospitalizações e cerca de 100.000 mortes a cada ano, principalmente em países em vias de desenvolvimento. É um vírus RNA, que não confere imunidade completa e, portanto, as reinfecções são possíveis e frequentes.
Quais são os sintomas?
A infeção por VSR começa como uma simples constipação, portanto, os bebés geralmente apresentam sintomas de infeção do trato respiratório superior durante 1 a 3 dias: espirros, tosse, dor de garganta, febre.
Do terceiro ao quinto dia podem começar a manifestar dificuldade respiratória, portanto, aumento da frequência respiratória, movimento de alargamento das narinas, retrações da pele ao nível do tórax durante a respiração. Frequentemente, precisam de oxigénio.
Em bebés prematuros, a apneia pode ser o primeiro sintoma, seguido pelos sintomas típicos de uma doença respiratória. Com falta de ar em alguns casos é necessário administrar oxigénio ou mesmo ventilação não invasiva.
Vigilância em Portugal
A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) lançou a Rede Nacional de Vigilância para o Vírus Sincicial Respiratório (RSV), principal agente responsável pelos internamentos por bronquiolite aguda na infância e que obriga a internar cerca de 5.000 crianças por ano em Portugal.
"Cerca de 20% dos internamentos em crianças abaixo dos dois anos são por bronquiolite aguda e, destes, cerca de 2/3 são pelo vírus sincicial respiratório", segundo a SPP.