Os médicos-dentistas do SNS queixam-se que trabalham em condições precárias e num esquema de falsos recibos verdes. Dizem que é urgente criar uma carreira para melhorar a situação dos profisisonais e os próprios cuidados. Portugal é dos países com piores indicadores de saúde oral, sobretudo por causa dos preços. 10% da população com mais de 65 anos nunca foi ao dentista.
“Se te dessem a hipótese de escolher ter um contrato com o Estado, aceitavas?”
“Sim”, respondeu André Vilela Alves, de 27 anos.
André começou a trabalhar como dentista há três anos com o sonho de fazer a diferença no sistema público.
"O contexto de SNS sempre me aliciou bastante, porque conseguimos ver de forma mais palpável a diferença que fazemos na vida das pessoas. No SNS os pacientes são manifestamente agradecidos pelos tratamentos que estamos a fazer", disse.
No Serviço Nacional de Saúde, André faz 20 horas semanais, mas sem contrato.
"Não faço horário completo, porque viver em Lisboa é incompatível com fazer 40 horas semanais no SNS", explicou.
E, portanto, complementa com trabalho no privado.
No público queixa-se de ser um falso recibo verde, sem as regalias de um contrato.
"Tenho um horário de trabalho sempre fixo, portanto tenho a minha agenda de pacientes, a minha assistente e as rececionistas fazem as marcações e, portanto, tenho sempre aquela agenda com os mesmos horários, o que não faz muito sentido sendo que nós não vamos fazer um trabalho pontual", detalhou.
Os últimos dados oficiais disponíveis são do final de 2022 e, nessa altura, trabalhavam para o SNS 140 médicos-dentistas. Destes, 118 contratados como prestadores de serviços.
A SIC pediu ao Ministério da Saúde números atualizados, até ao momento, sem resposta.
"Um dos grandes problemas é não existir uma carreira de médico-dentista, ou seja, como não existe, alguns médicos-dentistas, não são todos, estão associados a uma carreira de técnico superior e essa carreira não designa as funções que temos na nossa prática clínica, nós fazemos atos cirúrgicos", explicou André.
Em tempo de eleições, entre os dois principais candidatos, o PS propõe criar a carreira de medicina dentária no SNS, a AD propõe um novo programa de Saúde Oral num trabalho com unidades privadas.