Mais de metade dos portugueses não sabe o valor normal do Índice de Massa Corporal (IMC), um resultado que surpreendeu a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Foi o resultado "negativo" do estudo "Os portugueses e os fatores de risco". No Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, que este ano se assinala a 18 de maio, é importante destacar a relação entre esta doença e a doença cardiovascular.
O IMC mede a relação do peso com a altura. Quando é que é considerado normal? Mais de metade dos inquiridos (52%) não sabe responder a esta questão. E apenas 40% respondeu corretamente - deve ser inferior a 25 Kg/m2.
Luís Negrão, assessor médico da Fundação Portuguesa de Cardiologia e um dos participantes do estudo, diz-se surpreendido: "Não esperava que houvesse tanta gente sem saber o valor correto".
No entanto, o responsável acredita que exista desconhecimento por "ter de se fazer contas". Ou seja, as pessoas sabem ver o peso, sabem avaliar se se sentem mais gordas ou mais magras, mas quando "mete contas e fórmulas", a história é diferente.
Apesar de mais de metade desvalorizar o IMC, o assessor médico da Fundação Portuguesa de Cardiologia considera positivo que 68% das pessoas saiba que a gordura da barriga é mais prejudicial à saúde do que a das coxas e das ancas.
"A gordura da barriga tem algumas características diferentes, é mais ativa e pode desempenhar funções que poderão prejudicar a saúde cardiovascular. A gordura nas coxas e nas ancas é como a despensa lá de casa, onde guardamos coisas que acabam por não ser usadas", explica.
A obesidade está associada a "imensas situações clinicas". Uma delas é a diabetes, aponta o assessor médico. Já o Serviço Nacional de Saúde esclarece que a obesidade é uma doença multifatorial, que pode ter causas "comportamentais, genéticas, ambientais ou pode ser causada pela interação de todas".
É uma "pescadinha de rabo na boca" que precisa de ser "interrompida e alterada" para o bem da saúde cardiovascular, alerta Luís Negrão em entrevista à SIC Notícias. A diabetes no adulto relaciona-se com a obesidade e o sedentarismo. O sedentarismo agrava a diabetes e a obesidade. A diabetes agrava a doença cardiovascular.
A insuficiência cardíaca, que é a "fatura que se paga" por ter tido um enfarte agudo do miocárdio", pode ser "incapacitante e debilitante".
"É o coração cansado da sobrecarga de trabalho que lhe impusemos por falta de hábitos e comportamentos", afirma.
Para Luís Negrão, os portugueses sabem que o sal é prejudicial, sabem quando o peso está elevado, sabem os conceitos de colesterol, hipertensão e gordura abdominal. "O mais difícil", mas que tem de ser feito, é a mudança de comportamentos, que só acontece quando estamos informados dos riscos.
"É com as pequenas mudanças que mudamos de hábitos, como passar a andar mais, introduzir sopa nas refeições, pesar-se, tomar a medicação a horas certas", refere.
Uma pessoa deve ser ativa, ou seja, praticar atividade física de intensidade moderada, pelo menos, meia hora por dia durante cinco dias por semana. Dos inquiridos, a maioria tem consciência da importância de ser ativo.
Adicionalmente, 73% sabe que, por exemplo, as caminhadas, as atividades domésticas, a dança, andar de bicicleta e a jardinagem contam como atividade física e não apenas a ida ao ginásio.
"Tudo o que não seja estar parado conta como atividade física. O importante é mexer. Não basta caminhar de manhã e passar o resto do dia sentado sem fazer nada. Essa meia hora pode ser distribuída durante o dia", esclarece o médico, acrescentando que "quanto mais fizermos, melhor".
"Os portugueses e os fatores de risco": os resultados positivos
Das 934 pessoas que participaram no estudo, 64% sabe que o valor de colesterol normal é estar inferior a 190 mg/dL.
"Ficamos muito contentes que saibam os valores de colesterol elevado e colesterol normal. A garrafa menos vazia é que 23%, cerca de um quarto, não saiba esses valores. Ou porque não costuma medir, ou porque não quer saber ou porque efetivamente não sabe", reconhece Luís Negrão.
Outro resultado positivo foi 65% dos participantes saberem que existem vários tipos de colesterol:
"O colesterol é necessário para o organismo. As células precisam de colesterol. Levam o colesterol para todas as células. O que não é necessário regressa ao fígado para não ser aproveitado. O mau colesterol também é importante, desde que esteja dentro dos valores mínimos, aceitáveis", esclarece.
Em relação à tensão arterial, uma das bandeiras da Fundação Portuguesa de Cardiologia desde a sua criação, 75% sabe que deve ser inferior a 140/90 mmHg. "Ficamos contentes com o resultado", reconhece o assessor médico Luís Negrão. Apenas 8% dos inquiridos erraram o valor normal e 17% não sabe ou não responde.
Adicionalmente, 80% sabe que deve haver atenção redobrada na medicação e nos hábitos quando há histórico familiar de hipertensão, um resultado que diz ser "satisfatório". A importância da prevenção da tensão arterial alta deve ser reforçada "em casa, em farmácias, em ações junto da população".
Outro dos resultados positivos apontado por Luís Negrão à SIC Notícias foi 68% dos inquiridos saberem que os cigarros eletrónicos não são uma "alternativa saudável" aos cigarros convencionais, nem uma "boa ajuda para deixar de fumar".
"O tabaco é um fator de risco de doença cardíaca. O tabaco causa dependência e é prejudicial. Está muito associado ao cancro do pulmão", alerta o assessor médico, apelando à família e amigos que ajudem o fumador a ter "força de vontade" para deixar de fumar.
O estudo "Os portugueses e os fatores de risco" foi pedido e divulgado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia e elaborado pela GfK Metris, em março de 2024. Responderam ao inquérito 934 pessoas, com 18 anos ou mais, residentes em Portugal Continental. O objetivo era analisar e perceber o conhecimento dos portugueses sobre a saúde cardiovascular e os fatores de risco.
A Fundação Portuguesa de Cardiologia institucionalizou maio como "Mês do Coração" para consciencializar os portugueses para a prevenção de doenças cardiovasculares.
Já o Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade foi criado em 2004 para incentivar a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercício físico. É assinalado no penúltimo sábado de maio, que este ano calha a 18 de maio.