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Como lidar com a ansiedade pré-exames: dicas para jovens, pais e professores

Com a chegada da época de exames, é comum os jovens sentirem ansiedade. Mas quando é que se torna preocupante? E o que fazer para a enfrentar? Estas são algumas sugestões para a "hora h" e para quando a ansiedade aparece durante o estudo.

Como lidar com a ansiedade pré-exames: dicas para jovens, pais e professores
Nuno Botelho

Dores de cabeça, insónias, irritabilidade, esquecimento ou tristeza. Identifica estes sintomas nos seus filhos? Com os exames à porta, poderá ser ansiedade. A psicóloga Teresa Feijão deixa algumas sugestões para os jovens, pais, professores e até Ministério da Educação.

Os exames nacionais do secundário estão a chegar. Os alunos do 11º ano têm exames até dia 28 de junho e os do 12º até dia 27. Também na escola primária os alunos do 2º ano têm provas de aferição na dia 18, próxima terça-feira.

A carga de trabalho excessiva, com muitos exames num curto período de tempo, a preparação inadequada, o medo do fracasso ou a pressão (dos pais, dos professores ou até de si mesmo) para ter boas notas podem ser causas de ansiedade antes destas avaliações, também conhecida por ansiedade de desempenho.

A ansiedade antes dos exames é "bastante comum e até certo ponto considerada normal". Torna-se preocupante quando interfere significativamente na "capacidade de desempenho do aluno e na sua vida diária".

"Um nível moderado de ansiedade pode até ser benéfico, pois pode motivar os estudantes para uma melhor preparação. No entanto, a ansiedade pode tornar-se preocupante e patológica quando interfere significativamente na capacidade de desempenho do aluno e na sua vida diária", explica a psicóloga Teresa Feijão, membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses, à SIC Notícias.

A ansiedade pode traduzir-se em sintomas físicos (dores de cabeça, náuseas, insónia, fadiga, taquicardia), emocionais (irritabilidade, tristeza e desesperança) e cognitivos (dificuldade de concentração durante o estudo e na hora do exame, pensamentos negativos e esquecimento).

"A ansiedade elevada pode prejudicar os resultados, podendo levar a um desempenho inferior ao esperado nos exames. Repetidos episódios de ansiedade e pior desempenho podem também afetar negativamente a autoimagem e a autoconfiança", refere a psicóloga.

Torna-se preocupante quando a ansiedade começa a afetar o "desempenho académico, o sono, a alimentação e as relações sociais", quando os sintomas físicos se tornam "persistentes" e não desaparecem após o exame e se a pessoa evitar situações relacionadas com os exames escolares (evitar estudar, faltar às aulas ou até mesmo faltar aos exames).

O que fazer para lidar com a ansiedade?

"Se a ansiedade está a atingir estes níveis, é importante procurar apoio psicológico. Além disso, práticas de auto-cuidado, como exercício físico regular, técnicas de relaxamento e uma boa alimentação e boa rotina do sono podem ajudar a gerir a ansiedade", recomenda Teresa Feijão.

Além disso, recomenda técnicas de estudo eficazes, com revisão regular da matéria em vez de estudo de última hora, resumos com conceitos-chaves e exercícios de exames anteriores.

Também é importante estudar num ambiente limpo e organizado para "minimizar distrações" e com uma área de estudo "bem iluminada e confortável". Pode também ajudar participar em grupos de estudo para esclarecer dúvidas e conversar com amigos ou familiares sobre as preocupações.

Durante o exame, o jovem deve ler as instruções "com calma" antes de começar e distribuir o tempo de forma "equilibrada".

Repetir frases positivas para si mesmo, como "Estou preparado/a" e "Vou conseguir", e celebrar "pequenas vitórias" nos estudos ajuda a manter a motivação, sinaliza a especialista.

Quanto aos pais, pode ser "desafiador" ajudar os filhos, mas há estratégias, de acordo com a psicóloga contactada pela SIC Notícias, que podem ajudar para "ajudar a reduzir o stress e apoiar os filhos":

  • Estabelecer uma rotina: ajudar os filhos a estabelecerem uma rotina de estudo que inclua pausas regulares, uma vez que ter horários definidos pode ajudar a reduzir a ansiedade;
  • Promover hábitos saudáveis: incentivar a uma alimentação equilibrada, sono adequado e exercícios físicos regulares;
  • Oferecer apoio emocional: estar disponível para ouvir e conversar sobre preocupações, sem julgamentos;
  • Ensinar técnicas de relaxamento: técnicas como respiração profunda, meditação ou ioga podem ajudar a reduzir a ansiedade;
  • Desenvolver uma atitude positiva: incentivar uma mentalidade positiva e focada no esforço, não apenas nos resultados, ou seja, reforçar a ideia de que o importante é fazer o melhor possível;
  • Pausas recreativas: incentivar atividades que gostem para descontrair, como hobbies, tempo com amigos ou família e momentos de lazer.
  • Referência de comportamento calmo: ser um exemplo de calma e controlo emocional;
  • Procurar ajuda profissional: se a ansiedade for intensa e persistente, procurar a ajuda de um psicólogo;

E os professores, podem ter um papel importante no processo? Sim, têm um papel "crucial" na gestão da ansiedade dos alunos antes dos exames.

Devem estar atentos aos sinais de ansiedade excessiva e, se necessário, aconselhar os alunos a procurarem apoio psicológico.

Transmitirem informações claras sobre o "formato do exame, os tópicos e as expectativas" ajuda a reduzir a incerteza e a ansiedade. Também podem orientar os alunos sobre planear e gerir o tempo de forma eficaz.

Os docentes podem também incluir "breves sessões de relaxamento" nas aulas, dar um "feedback construtivo e encorajador" e mostrar abertura para o diálogo com os alunos "particularmente ansiosos".

Além dos professores, também o Ministério da Educação pode ter um "papel significativo", implementando políticas e programas que promovam o "bem-estar emocional e mental" nas escolas. Eis algumas medidas que a tutela poderia adotar:

  • Oferecer programas de formação contínua para formar professores em técnicas de gestão da ansiedade e bem-estar emocional dos alunos;
  • Integrar conteúdos sobre saúde mental e competências socio-emocionais no currículo escolar;
  • Procurar garantir que todas as escolas tenham acesso a serviços de apoio psicológico e outros recursos de saúde mental para os seus alunos;
  • Rever e, se necessário, reformular o sistema de avaliação o sentido de reduzir a pressão excessiva sobre os alunos, incluindo a consideração de avaliações mais holísticas e diversificadas;
  • Implementar campanhas de sensibilização sobre a importância da saúde mental e estratégias de gestão da ansiedade direcionadas a alunos, pais e professores;
  • Fornecer suporte específico para alunos com necessidades especiais que possam ser mais vulneráveis à ansiedade relacionada com os exames;
"Ao adotar estas medidas, o Ministério da Educação pode conseguir criar um ambiente escolar mais saudável e de apoio, ajudando a reduzir a ansiedade dos alunos e promovendo um melhor desempenho académico e bem-estar geral", indica Teresa Feijão.

O que é a ansiedade?

É uma emoção "absolutamente normal", refere a psicóloga consultada pela SIC Notícias. É uma reação "comum e naturalmente defensiva" do organismo, por exemplo, em mudanças ou em momento de avaliação. Começa a ser preocupante quando se torna "frequente e excessiva", prejudicando a qualidade de vida.

A dificuldade em lidar com a ansiedade pode originar crises de ansiedade, ou seja, sintomas "repentinos e intensos", uma reação "extremamente forte" de forma "aleatória e involuntária", que interfere com a vida da pessoa, explica a psicóloga Teresa Feijão. Na maioria das vezes, as crises de ansiedade caracterizam-se por uma "sensação inexplicada de medo, respiração irregular, taquicardia e tremores no corpo".

Para lidar com o excesso de ansiedade e a dor emocional, muitas pessoas procuram "prazeres imediatos", como comer, comprar, jogar ou beber.