O Infarmed aprovou o uso da terapia fágica em Portugal - uma terapia que permitirá, agora, salvar vidas e reduzir custos nos hospitais portugueses. O país torna-se, assim, um dos primeiros no mundo a regulamentar o uso de bacteriófagos para tratar infeções resistentes aos antibióticos. É uma enorme esperança para muitos doentes.
Os bacteriófagos são os predadores naturais das bactérias, vírus que infectam e destroem apenas bactérias. Têm permitido salvar vidas pelo mundo fora como terapia experimental. Em 2018, a Bélgica foi o primeiro país do mundo ocidental a aprovar o uso da terapia fágica para tratar infeções resistentes aos antibióticos. Portugal dá agora o mesmo passo.
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"Falo num dia histórico, porque há muitos anos que se sabe que esta é uma possibilidade e alternativa terapêutica para situações muito complicadas. (...) Poupamos não só vidas como muitas vezes a morbilidade, por exemplo, uma infeção grave que pode dar origem a uma amputação ou a uma cirurgia grave, mas se conseguirmos tratar a infeção com fagos, ou até com fagos e antibiótico, vamos poupar todo esse sofrimento", disse, à SIC, Carlos Alves, vice-presidente do Infarmed.
Em 2021, o Hospital Universitário de Lovaina, na Bélgica, criou o grupo de coordenação de terapia fágica, liderado pelo cirurgião Willem-Jan Metsemakers.
"Tomei muitos antibióticos, fiz várias cirurgias, mas nada resultava", contou Marian Coenen. No caso desta mulher, a terapia fágica evitou a amputação da perna e de parte da bacia. Ao contrário dos antibióticos, não tem efeitos secundários.
Em Portugal, os doentes com infeções respiratórias crónicas sem solução nos antibióticos que já recorrem à terapia fágica dependiam até agora da boa vontade de médicos e investigadores de Bruxelas e de um longo processo burocrático. A norma, agora aprovada pelo Infarmed, põe fim a isso.
"Vai permitir que em Portugal, nos hospitais portugueses, e com o trabalho das farmácias hospitalares, se possa usar fagos", explicou Carlos Alves.
Portugal tem em Braga uma das mais respeitadas especialistas em terapia fágica do mundo. Conta agora com uma regulamentação de vanguarda.
Esta abordagem (ainda desconhecida para muitos profissionais de saúde) vai ajudar a combater um grande problema atual de saúde pública: as bactérias resistentes aos antibióticos, que matam mais de 700 mil pessoas por ano em todo o mundo.