“Só vivemos duas vezes”: A história de quem sobreviveu a dois cancros

Aos 14 anos, Ana Silva, teve uma notícia que mudou para sempre a sua vida: Linfoma de Hodgkin, diagnosticado no ano de 1988, numa altura em que a sobrevida para este género de tumores era muito reduzida. “Apareceu-me um nódulo no pescoço que, no início, desvalorizei. Voltou a reaperecer, algum tempo depois, o que fez com que a minha mãe me obrigasse a ir às urgências”. Nesse mesmo dia, encaminharam-na, de imediato, para o IPO de Lisboa.
Ana Silva lembra-se de tudo como se fosse hoje. Naquela altura, a informação sobre as doenças oncológicas era quase inexistente e, embora reconhecesse o nervosismo no rosto da mãe quando lhe foi dado o diagnóstico, ela própria não ficou muito preocupada com a notícia, sentimento que se foi alterando à medida que o tratamento ia avançado e o conhecimento sobre a doença aumentava exponencialmente. Vinda diretamente do Alentejo, mais precisamente de Montemor-o-Novo, Ana começou a ser tratada no IPO de Lisboa.
Sobrevivi! Mas, a partir daí, vivi com o coração nas mãos”
A sobrevivente conta que 1988 foi um ano muito angustiante, passado dentro do IPO de Lisboa. Entre os tratamentos agressivos, a queda de cabelo, e as crianças que via partir, teve medo de morrer muitas vezes. “Todas as mudanças a nível físico tiveram um impacto brutal na minha vida, mas, mesmo assim, nunca deixei de frequentar a escola” - frequentava o 10º ano e sempre conseguiu tirar boa notas. Depois, tirou um curso superior, começou a trabalhar e ultrapassou a angústia que a atormentava quando pensava não iria ter filhos. “Casei, tive dois lindos filhos e passei a ter uma vida quase normal. Sobrevivi! Mas, a partir daí, vivi com o coração nas mãos”, confessa Ana Silva.
Ana Silva foi acompanhada na pediatria do IPO de Lisboa até aos 32 anos, altura em que a sua médica se reformou. “Mantive, no entanto, o acompanhamento na consulta de endocrinologia com uma médica espantosa que me acompanhou sempre, anualmente, com exames médicos”.
A morte do pai e o lançamento do livro
Ana encontrou o apoio que precisava na família, nos amigos e nos profissionais de saúde que se cruzaram no seu caminho. Em 2010, o seu pai foi diagnosticado com cancro de pulmão. “Nesse mesmo ano, o ator António Feio perde a luta contra o cancro e edita um livro que eu leio em apenas uma noite. Nessa noite, decido recuperar os rascunhos de uma história que tinha começado a escrever, em forma de diário, aos 14 anos, altura em que enfrentei o cancro”, explica. Acabou por aprimorar a escrita da altura e enviou para algumas editoras, na esperança que a sua história pudesse ajudar o pai a ganhar uma postura otimista e a conseguir sobreviver. “O meu pai perde a luta contra o cancro em fevereiro de 2011, alguns dias antes de o livro ser editado. O livro sai para as livrarias no dia 25 de fevereiro, dia em que o meu pai contemplaria 70 anos de idade. A obra, que se intitula “Só vivemos duas vezes”, já teve uma 2ª edição e continua à venda.

Capa do livro de Ana Silva, lançado em 2011
A recidiva
O medo que viveu a partir do momento em que ultrapassou a doença materializou-se, quase 30 anos depois, quando lhe foi diagnosticado cancro da mama, em 2015, após uma consulta e exame de rotina. “Tinha dúvidas sobre os tratamentos a fazer e o tipo de cirurgia adequado. Desta vez, os medos foram maiores: temia pelos meus filhos e marido, devido ao conhecimento mais profundo que já tinha sobre o cancro”, explica a atual diretora financeira. Felizmente, conseguiu conciliar os tratamentos com o trabalho e, em 2018, fez uma histerectomia total com anexectomia bilateral.
Desta vez, os medos foram maiores: temia pelos meus filhos e marido"
Ana deixa um conselho aos doentes oncológicos: “É natural que quando recebemos a notícia de que temos cancro, haja revolta da nossa parte e surja uma vontade de desistir, mas creio que é importante olharmos para outras situações piores que a nossa, sempre foi assim que consegui reagir e seguir em frente. Da primeira vez, olhando para aquelas crianças inocentes que não mereciam aquele sofrimento atroz e, da segunda vez, acompanhei de perto grandes mulheres que não baixaram os braços. Finalmente, é preciso pensar que, independentemente do resultado final, nunca devemos desistir”.
Ana Silva voltou à escrita e encontra-se, neste momento, a redigir a continuação do seu primeiro livro, de forma a contar a sua experiência enquanto doente de cancro da mama.
27 maio 2020
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
“Aligeirei quando contei à minha mãe do cancro da mama e ela disse: ‘Também tenho aqui uma coisa.’ Não era um caroço, era uma massa imensa”
Tia Cátia fez a biopsia que confirmou o cancro da mama no último dia de 2021. Foi operada poucos meses depois, tirou, como costuma dizer, duzentos gramas de mama e fez radioterapia. Ao mesmo tempo que fazia os tratamentos, a mãe, com 81 anos, também foi diagnosticada com um cancro da mama. No podcast 'Tenho Cancro. E Depois?', conta a sua história ao lado do médico Diogo Alpuim Costa, que a acompanhou durante o processo21.08.2025 às 8h00
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
“Ao quarto cancro sinto cansaço e revolta, achei que já tinha dado para este peditório. Já é uma novela mexicana em que ninguém acredita”
Há vidas que parecem não caber numa só vida. A jornalista Andreia Catarino diz que vence lotarias, mas ao contrário. Sabe o que é estar doente desde a adolescência. Com 42 anos, já teve 4 cancros: um linfoma, um tumor no fígado, cancro da mama e cancro da tiroide. No podcast 'Tenho Cancro. E Depois?', conta a sua história ao lado da oncologista Patrícia Pereira, que a tem acompanhado14.08.2025 às 8h00
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
Helena Costa: “Devido ao cancro do pulmão mudei a minha vida toda para ser feliz. Separei-me, comprei uma casa: fez-me não perder tempo”
Aos 39 anos, com um estilo de vida saudável, Helena Costa deparou-se com um cancro no pulmão. Sentiu uma enorme revolta e foi consumida durante uns tempos por uma ansiedade desconcertante. Na altura, as filhas gémeas tinham apenas um ano e meio. No podcast “Tenho Cancro. E Depois?”, a atriz conta a sua história ao lado de Fernando Martelo, o cirurgião que a acompanhou07.08.2025 às 8h00
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
“Aos 50 anos fiz uma festa enorme e um discurso 'A minha mãe não foi avó, mas eu vou ser'. Meses depois recebi o diagnóstico, foi um embate”
Viveu desde muito cedo com o fantasma do cancro na família. Os avós, uma tia e uma prima tiveram, mas o caso que mais a marcou foi o da mãe, que morreu com cancro da mama aos 49 anos. Quando celebrou 50 anos chegou o diagnóstico: tinha cancro da mama. No podcast 'Tenho Cancro. E Depois?', Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, conta a sua história com o cancro ao lado do marido, Frederico Carneiro31.07.2025 às 7h40
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
“Por causa da operação ao cancro da próstata estive quatro meses de fralda, mas não deixamos de ser homens por fazer xixi nas calças“
Jorge Bento Silva conviveu sempre com o pior da espécie humana. Dedicou toda a carreira à luta contra o terrorismo e acredita que o sofrimento dos outros, que foi acumulando nos últimos 35 anos, foi uma das principais causas do cancro da próstata, que lhe foi diagnosticado há 14 anos. No podcast 'Tenho Cancro. E Depois?', Jorge Bento Silva relata a sua experiência, ao lado do psiquiatra Pedro Macedo24.07.2025 às 8h00
-
Tenho cancro. E depois? em Podcast
“A ideia de que se tiver vontade vou derrotar o cancro é falsa e perigosa. Se não me curei então foi porque não tive vontade suficiente?”
Há mais de 30 anos que Isabel Galriça Neto lida de perto com quem enfrenta doença graves: tem a missão de fazer tudo o que está ao seu alcance para diminuir o sofrimento dos doentes, e apoiar as famílias. No ano passado, foi-lhe diagnosticado um cancro da mama triplo negativo, o mais grave. No podcast 'Tenho Cancro. E Depois?', a médica e antiga deputada pelo CDS-PP conta a sua história ao lado da médica Mónica Nave, que a acompanhou durante os tratamento17.07.2025 às 8h00
E Depois