Teste genético previne cancro do ovário
Tenho cancro. E depois?

Michael Dalder
Hoje, 8 de maio, é Dia Mundial do Cancro do Ovário. Um cancro silencioso e difícil de diagnosticar que registou 574 novos casos, no ano passado, em Portugal e que provocou a morte a mais de 400 mulheres.
Uma patologia oncológica que, contudo, já é possível prevenir com um teste genético. Este possibilita “identificar os portadores dos genes na família e encaminhá-los para uma consulta multidisciplinar de aconselhamento genético”, explica Tamara Milagre, presidente da Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos genes relacionados com Cancro Hereditário (EVITA).
Várias sociedades científicas já alertaram para a importância deste teste genético na prevenção e tratamento do cancro do ovário.
Sabe-se que as mutações genéticas são transmitidas às gerações seguintes. Se o pai ou a mãe tem a mutação, há uma probabilidade de 50% de os filhos a terem herdado.
Segundo Gabriela Sousa, da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), impõe-se a realização do rastreio genético, já que, se o teste for positivo, “é obrigatório encaminhar para consulta de genética médica os familiares em risco de poderem herdar essa alteração.” Os que não têm a doença, devem, no entanto, tomar “medidas de vigilância e redutoras de risco para evitar que venham a tê-la”, esclarece.
A vigilância específica para este tipo de patologia e as terapêuticas precoces aumentam as hipóteses de tratamento e cura, bem como de prevenção, afirma Tamara Milagre.
Apesar de apenas 1,3% das mulheres da população em geral virem a desenvolver cancro do ovário ao longo das suas vidas, a predisposição genética é um importante fator de risco para o desenvolvimento deste tumor.
“saBeR mais ContA”
Este alerta é um dos principais objetivos da campanha “saBeR mais ContA” (numa alusão aos genes BRCA1 e BRCA2 cuja mutação está na origem dos cancros da mama e do ovário) que começa hoje.
Para informar os cidadãos relativamente ao cancro do ovário e da mama a Evita, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, as Sociedades Portuguesas de Genética Humana, de Ginecologia, de Senologia e de Oncologia e a AstraZeneca lançam a iniciativa “saBeR mais ContA”, a decorrer até outubro, mês que assinala a prevenção do cancro da mama. Mas esta campanha tem outra finalidade, segundo Tamara Milagre: alertar também os decisores políticos para a importância do teste genético. Este consiste numa análise ao ADN para detetar mutações nos genes associados ao cancro hereditário e pode fazer-se já em vários laboratórios do Serviço Nacional de Saúde ou privados.
O problema é que muitos destes testes estão a ser feitos “de qualquer maneira em laboratórios não acreditados”, alerta Tamara Milagre, sublinhando a “necessidade da consciencialização dos responsáveis políticos” relativamente à importância de melhorar as estruturas e meios de identificar os casos hereditários, aumentando a capacidade de resposta às necessidades.
Os médicos de família assumem um papel particularmente importante neste processo, visto que “estão na linha da frente” e podem encaminhar as pessoas para consultas de aconselhamento genético, diz a presidente da Evita.
A campanha lançada esta quarta-feira inclui sessões de esclarecimento com médicos especialistas sobre as mutações genéticas BRCA e o cancro dirigidas, principalmente, a doentes e familiares.
A primeira sessão está marcada para o dia 17 de maio, às 15h00, no IPO de Coimbra, e a segunda, para 30 de maio, à mesma hora, no IPO do Porto.
No âmbito da “saBeR mais ContA”, organiza-se também uma exposição fotográfica no Alma Shopping, em Coimbra, entre 9 a 20 de maio, sobre casos de famílias com diagnóstico de cancro da mama e/ou ovário associados à mutação BRCA. Esta exposição estará também patente ao público, na estação da Casa da Música do Metro do Porto de 20 a 31 de maio.
Em outubro, a campanha “saBeR mais ContA” é apresentada em Lisboa.
É “mais barato fazer prevenção do que fazer tratamento”, nota Tamara Milagre, sublinhando que “saber é poder”.
08 maio 2019
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