Virologista português lidera rede de ação para erradicar HPV na Europa

O coordenador do Grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral e Assessor do Serviço de Virologia do IPO do Porto, Rui Medeiros, pretende, enquanto co-presidente recém eleito da HPV Action Network, desenvolver políticas de saúde que ofereçam um acesso equitativo à vacinação, triagem, tratamento e literacia para a saúde em todos os países da Europa.
A nomeação para esta HPV Action Network foi feita pela Assembleia Geral da European Cancer Organization (ECCO) durante o mês de junho, uma Federação que reúne várias organizações europeias - incluindo a European Association of Urology (EAU), a European Cancer Leagues (ECL), a European Society of Gynecological Oncology (ESGO) e a European Society of Pathology – e faz recomendações junto do Parlamento Europeu sobre questões de saúde pública.
A decisão tomada pelo Reino Unido, em setembro de 2019, para integrar os jovens do sexo masculino no plano de vacinação de prevenção dos cancros por HPV inspirou a formação deste grupo europeu com o objetivo de erradicar o vírus. A nova “rede de ação” foi anunciada em dezembro, quando especialistas em cancro de alto nível de toda a Europa se reuniram em Bruxelas.
“O cancro do colo do útero, o segundo tipo de cancro mais frequente na mulher em todo o mundo, é a doença mais relevante associada à infeção por HPV, embora também já seja um importante fator de risco para o cancro de cabeça e pescoço, especialmente na região da orofaringe”, explica Rui Medeiros, garantindo que as políticas de prevenção e a regulamentação do acesso ao rastreio são as maiores prioridades deste grupo de trabalho, que pretende efetivar recomendações europeias padronizadas.
Em Portugal, o cancro do colo do útero é o segundo tumor ginecológico mais frequente na população feminina com menos de 50 anos. Há cerca de 750 novos casos de cancro do colo do útero por anos - 350 conduzem à morte.
De recordar que em 2018 foi introduzida no Programa Nacional de Vacinação a vacina contra o cancro do colo do útero. "A maior parte dos tipos de HPV afetam o colo do útero. O cancro por HPV demora muitos anos até conseguir ser observado - cerca de 20 anos", explica Teresa Fernandes, da Comissão Técnica e Vacinação da Direção Geral de Saúde (DGS).
“Sabemos que todas as mulheres estão em risco de terem cancro do colo do útero. Apesar disso, é impressionante a evolução positiva que se alcançou nos últimos anos, e graças aos resultados da investigação foi possível, em Portugal, a introdução de uma vacina contra este vírus (temos uma das melhores taxas de cobertura do mundo: mais de 90%) e a implementação do teste molecular de deteção do HPV como o método mais sensível no rastreio do cancro do colo do útero”, explica Rui Medeiros.
Os investigadores do IPO do Porto, onde Rui Medeiros trabalha, participaram nos ensaios iniciais que levaram a aprovação da vacina anti-HPV e, desde o início dos anos 90, que realizam testes moleculares ao HPV, além de diversos projetos de investigação para compreensão do comportamento deste vírus que provoca geralmente uma infeção sem sintomas. Foram, igualmente, responsáveis por trazer para Portugal a maior reunião cientifica mundial sobre o vírus HPV em 2015, exactamente no ano em que comemoramos os 50 anos do Plano Nacional de Vacinação.
30 junho 2020
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