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Nova estratégia nacional de combate ao cancro é "ampla e ambiciosa”

Nuno Sousa, membro da coordenação do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas explicou em que consiste a mais recente estratégia, numa sessão que também contou com a participação de várias associações de doentes que comentaram, em primeira mão, o novo plano

Rita Neves, jornalista da SIC Notícias, moderou a conversa entre Nuno Sousa e os representantes de associações de doentes Vítor Neves, Tamara Milagre, Miriam Brice, Margarida Cruz, Isabel Magalhães e José Graça

Muito se tem escrito sobre as novas propostas incluídas no novo plano de combate ao cancro que Portugal desenhou - sobretudo as que estão relacionadas com a mitigação do risco de exposição ao álcool e tabaco ( DGS pretende proibir a venda deste último a menores de 21 anos, aumentar o preço do produto em questão e regular os ingredientes presentes ) - , mas as ideias a implementar vão muito além do controlo destes dois fatores de risco.

Colocando o cidadão no centro, a proposta concretiza os objetivos específicos em função de quatro pilares de ação estratégica: o Pilar da Prevenção, o Pilar da Deteção Precoce; o Pilar do Diagnóstico e Tratamento e o Pilar dos Sobreviventes.

Promover estilos de vida saudáveis, melhorar o ambiente, melhorar a cobertura dos rastreios já existentes e a sua acessibilidade, reformular a estrutura nacional de cuidados dentro do SNS, aumentar a capacidade de resposta dos cuidados paliativos, obter mais informação sistematizada sobre os sobreviventes de cancro no país e incluir os cancros pediátricos e hereditários pela primeira vez na estratégia são as propostas mais sonantes.

"Este plano pretende garantir a universalidade do acesso dos portugueses a cuidados de saúde com qualidade e em tempo oportuno", sublinha Nuno Sousa 

"Este plano pretende garantir a universalidade do acesso dos portugueses a cuidados de saúde com qualidade e em tempo oportuno", sublinha Nuno Sousa 

Nuno Sousa, um dos responsáveis pela elaboração do documento e especialista convidado do "Vamos Falar?", rubrica inserida no projeto editorial da Sic Notícias, Tenho Cancro. E depois?, que conta com o apoio da Novartis e da Médis, diz que "ao desenhar esta estratégia atendemos aos objetivos colocados pela Comissão Europeia e transpusemos a maior parte deles", acrescentando que o que se quer é "chegar em tempo útil, a todos os doentes, com os melhores recursos disponíveis".

Conheça os principais tópicos de discussão do debate.

Mais e mais acessíveis rastreios

- O grande objetivo é universalizar o acesso e conseguir 90% de cobertura populacional em relação aos rastreios já existentes (cancro colorretal, colo do útero e mama) até 2025;

- Está em debate, na Europa, a implementação dos rastreios do cancro da próstata, do pulmão e do estômago. "Teremos, obrigatoriamente, de pensar como os vamos transferir para Portugal", diz Nuno Sousa;

- Tanto no cancro pediátrico como hereditário não tem havido rastreio, mas tendo em conta as necessidades específicas destas patologias - nomeadamente a questões relacionadas com a deteção precoce - estes dois tipos de neoplasia estão incluídos na estratégia pela primeira vez.

Dados em saúde atuais

- Mesmo que em 2017 o parlamento português tenha instituído o Registo Oncológico Nacional (RON) - que incorpora o registo de cancro pediátrico -, os dados em oncologia deixam ainda muito a desejar, havendo um longo caminho a percorrer para que estes se tornem atuais e eficazes;

- Os dados apresentados na nova estratégia remontam a 2018 e apenas foram publicados em 2021. "Sabemos que até ao final do ano serão publicados os dados de 2019", refere Nuno Sousa;

- "Sem dados não temos conhecimento nem progredimos", lembra Tamara Milagre, presidente da Evita. "Precisamos de dados atuais e, se não os tivermos, isso em oncologia é dramático", reforça Miriam Brice, presidente da Associação Careca Power.

Melhorar os cuidados de saúde primários, diminuir tempos de espera, investir num melhor cruzamento de dados para que o doente possa ser atendido em qualquer instituição, motivar os profissionais de saúde e aumentar a literacia entre a população portuguesa foram outros dos aspetos que se esperam ver resolvidos através da implementação do plano, citados pelos oradores durante a sessão.

Para ver a sessão na íntegra clique AQUI.

O QUE DIZEM AS ASSOCIAÇÕES SOBRE O NOVO PLANO

"O rastreio do cancro colorretal é um parente pobre da saúde e, portanto, nós esperamos que este rastreio (que nós dizemos que quase não existe), seja completamente reformulado e implementado de forma transversal", refere Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal


"O facto de aparecerem as palavras 'cancro hereditário' no plano já é uma coisa pioneira, mas a EVITA defende que este cancro deve ter um plano transversal de trabalho porque, tal como o cancro pediátrico, é um cancro completamente diferente na prevenção, deteção precoce e tratamento", defende Tamara Milagre, presidente da EVITA


"Felicito o documento porque nele concentra os principais problemas e causas que podemos controlar e melhorar. No plano, não vejo tanta preocupação com a parte emocional e diria que a literacia também é bastante mais importante do que aquilo que se tem falado", frisa Miriam Brice, presidente Associação Careca Power


"Em relação ao cancro pediátrico, fiquei feliz por haver uma estratégia que contemple a palavra 'pediatria', mas existem alguns pontos que nos preocupam. Existe, por exemplo, uma omissão bastante profunda aos adolescentes e jovens adultos", explica Margarida Cruz, diretora-geral da Acreditar


"Trata-se de um plano abrangente e ficámos satisfeitos com a sua existência, mas esperamos que não fique apenas no campo das intenções. No caso concreto do caso do pulmão há uma razão para a elevada mortalidade: o diagnóstico ser feito numa fase muito avançada e isso traduz-se num grande sofrimento e num grande custo. Urge avançar para a questão do rastreio do cancro do pulmão", considera Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale


"Acho que é muito importante investir em literacia no que toca ao cancro da próstata e tenho alguma pena que este documento ainda não fale no rastreio para esta neoplasia", diz José Graça, da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata

As associações de doentes foram chamadas a dar o seu contributo para a melhoria do plano e todas apelam, juntamente com a DGS, à participação ativa dos seus pares e da sociedade em geral. De recordar que o documento está em consulta pública AQUI até ao fim do mês de julho.

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