Não há cancro que goste de uma boa alimentação
Ter uma dieta equilibrada faz parte dos pergaminhos de qualquer rotina que se queira saudável, e tal princípio assume um papel ainda maior quando pensamos naquela que é a segunda maior causa de morte em todo o mundo: o cancro.
De acordo com a Liga Portuguesa Contra o Cancro, aproximadamente um terço de todas as mortes por cancro estão relacionadas com a alimentação e atividade física e 75% a 80% da maior parte dos cancros são causados por fatores associados ao estilo de vida. “Um equilíbrio certo de nutrientes (proteína, gordura, hidratos de carbono, fibra, vitaminas e minerais) permite que o corpo seja capaz de desempenhar funções vitais e corrigir erros que podem conduzir a cancro”, esclarece Marta Carriço, nutricionista da Fundação Champalimaud e coautora do livro “Comer para prevenir e enfrentar o cancro”. Seja na prevenção, seja no pós-diagnóstico, parece claro que “a nutrição pode ser determinante no percurso de uma pessoa com cancro”, aponta.
Na fase de tratamento, “a nutrição tem um impacto muito grande na sua eficácia, no prognóstico e na qualidade de vida”, sintetiza Ana Paula Leite, diretora do Serviço de Nutrição do IPO de Coimbra. “É frequente os doentes estarem desnutridos no momento do diagnóstico e, de um modo geral, todos os tratamentos usados em oncologia agudizam essa fragilidade.” Por isso qualquer plano terá que ser personalizado e deve focar-se em “minimizar os sintomas da doença, melhorar a adesão aos tratamentos e minorar os seus efeitos secundários”, entre outros objetivos.
Segundo diretivas “internacionais”, realça Joana Gante, nutricionista no Hospital CUF Coimbra, “um doente que receba um diagnóstico de cancro deverá ser reencaminhado para a consulta de nutrição, idealmente até quatro semanas após o diagnóstico”. É assim que “a intervenção nutricional deve ser incluída numa abordagem multidisciplinar, que permitirá obter resultados significativamente superiores no acompanhamento destes doentes”. Sem esquecer que há espaço para melhorar, “desde logo através de uma maior integração de nutricionistas nos hospitais e centros de saúde, de forma a aproximar os rácios de camas por nutricionista”, o que se enquadra num estudo da Ordem dos Nutricionistas, que estima serem necessários cerca de mais 800 nutricionistas no SNS.
Paula Ravasco é coordenadora da pós-graduação em Nutrição em Oncologia do ICS da Universidade Católica Portuguesa e acredita “que a educação em nutrição para os médicos é escassa”, além de ainda não estar incluída “nos cuidados de saúde padrão”. Há dados a mostrar que, por exemplo, “a malnutrição aumenta em 20% os custos de hospitalização, representando um aumento de €200 a €1500 por doente”.
Por outras palavras, se a alimentação “não for controlada”, pode contribuir “para a perda de peso, alteração da composição corporal, descondicionamento físico e instalação de deficiências nutricionais, todos com forte impacto nas atividades do dia a dia”, além de poder mesmo “inviabilizar terapêuticas médicas propostas”, defende a diretora do Serviço de Nutrição e Alimentação do IPO do Porto, Paula Alves. Sem esquecer que as lições aprendidas ao longo da luta não devem ser logo descartadas. “Nos doentes considerados curados é importantíssima” a contínua “adoção de uma alimentação equilibrada e prudente, tendo por base os princípios do padrão alimentar mediterrâneo” para prevenir reincidências. Tudo sempre a girar à volta do equilíbrio.
As prioridades que temos
REDUZIR A OBESIDADE

Mais de 65% dos portugueses vivem com excesso de peso, segundo um estudo da Universidade de Lisboa, e naquele que é o terceiro país europeu com maior prevalência de obesidade, de acordo com a OCDE, isso é fundamental para “aqueles tipos de cancro em que a alimentação e o estilo de vida têm um papel preponderante”, como é “o caso dos localizados na região da cabeça e do pescoço, gastrointestinais, da mama ou da próstata”, explica Paula Alves.
MINIMIZAR OS EFEITOS NOCIVOS DOS TRATAMENTOS

Um plano de nutrição personalizado permite aos doentes sofrerem menos com os efeitos secundários dos tratamentos e beneficiarem de uma melhor qualidade de vida. Ou seja, para Ana Paula Leite, “proporcionar acompanhamento nutricional aos doentes oncológicos é aumentar-lhes as hipóteses de suportarem os tratamentos com menos sofrimento” e “de terem maior probabilidade de cura ou controlo da doença”.
PREVENÇÃO DA REATIVAÇÃO

“Os doentes oncológicos submetidos a tratamentos com intenção curativa e que se encontram livres da doença” devem ter “bons hábitos de vida”, que passam por “um adequado peso corporal, manterem-se fisicamente ativos e terem uma alimentação equilibrada”. Metas de saúde, válidas para todos, que, aponta Paula Ravasco, são essenciais para “a reintrodução do doente na sociedade ativa” e evitar ao máximo que o cancro reapareça.
O que anda o TCED a fazer
Após o atraso provocado pela pandemia, a Estratégia Nacional de Luta contra o Cancro para 2021-2030 foi apresentada a 1 de julho, e está assente em quatro grandes pilares: prevenção, deteção precoce, diagnóstico e tratamento, e sobreviventes. O plano foi o tema do mais recente “Vamos Falar?”, evento do Tenho Cancro. E Depois? (TCED) que juntou especialistas e associações de doentes para debater e questionar o representante da Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas, Nuno Sousa. O objetivo? Perceber as prioridades do programa e como é que ele pode responder às reivindicações e aspirações da comunidade, com Nuno Sousa a garantir que, “ao desenhar esta estratégia”, foram atendidos “os objetivos colocados pela Comissão Europeia” no Plano Europeu de Luta contra o Cancro.
Houve também espaço para um novo “Checkup Seguro” (filme explicativo sobre tópicos ligados ao cancro), dedicado à importância da atividade física para a recuperação do doente oncológico e já estão a ser preparadas mais iniciativas. É estar atento ao site do TCED e às plataformas sociais do Grupo Impresa.
TENHO CANCRO. E DEPOIS?
A SIC Notícias e o Expresso lançaram um site — www.tenhocancroedepois.pt — dedicado ao cancro. Ao longo do ano, a plataforma recolherá a opinião de médicos, doentes e especialistas sobre os desafios de uma doença que afeta cada vez mais pessoas. O projeto tem o apoio da Médis e da Novartis, além da colaboração da Liga Portuguesa contra o Cancro e da Sociedade Portuguesa de Oncologia.
Textos originalmente publicados no Expresso de 12 de agosto de 2022
12 agosto 2022
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