A difícil tarefa de contar a um filho que se tem cancro

Pode ajudar começar por perguntar o que para os seus filhos significa a palavra cancro e, a partir daí, desenvolver a conversa. Se fizerem alguma pergunta que não sabe responder, diga isso mesmo, que não sabe. É bom não inventar histórias porque, mais tarde, eles lembrar-se-ão do que lhes foi dito.
Esta é apenas uma das dicas que a associação Mama Help - dedicada a mulheres com cancro da mama - disponibiliza às doentes oncológicas. Listamos algumas outras dicas sugeridas pela associação:
Quem lhes pode dizer?
Para a maioria das crianças/jovens esta informação será mais bem aceite se for dita por si ou pelo pai/companheiro. Geralmente as crianças aceitam melhor as más notícias se estas lhes forem dadas por alguém que amam ou em quem confiam.
Quando e onde contar?
Não há regras que se apliquem a todos da mesma forma. A maneira como a informação vai ser transmitida, vai depender das idades e da forma como fala habitualmente com eles, não só sobre doenças, como de outros assuntos que dizem respeito à família. Tendencialmente, quanto mais aguardar para lhes contar a verdade, maiores são as probabilidades de se aperceberem que algo não está bem.
Ter que falar com os filhos numa altura em que está emocionalmente vulnerável pode ser difícil. Tente falar de modo calmo e confiante, num ambiente a que estão habituados e onde estão confortáveis. É bom manter os filhos informados para que não se sintam excluídos e se sintam à vontade para fazer perguntas. Às crianças mais pequenas poderá ter que repetir algumas das explicações ao longo do processo da doença.
Como encontrar as palavras certas?
Muitas mulheres sentem-se mais confortáveis se discutirem antes com o companheiro ou amigos o que vão dizer aos filhos. Pode, ainda, pedir ajuda à equipa de tratamento sobre a melhor forma de abordar o tema. Pensar nas palavras que vai usar também pode ajudar, apesar de poder surgir alguma questão que não esteja à espera durante a conversa. A melhor forma de lidar com o assunto é não apresentar explicações muito complicadas ou elaboradas.
Use, se possível, desde o início a palavra cancro associada a uma explicação que as crianças possam entender. Isto fará com que a palavra não as assuste.
Deve falar de forma aberta, sem segredos. No início pode ser difícil, mas irá tornar a situação melhor e mais clara para a família.
Pode explicar, por exemplo, que o corpo é formado por pequenas unidades, chamadas células, e que o cancro são células que se tornam diferentes das outras, fazendo co que o corpo não trabalhe da mesma forma.
Tente informá-los o melhor que souber sobre a doença e todos os passos que vai percorrer ou, de outro modo, poderão procurar informação por si próprios e encontrar cenários mais angustiantes, que poderão não corresponder à verdade.
Como vão reagir?
As crianças/jovens reagem de maneira diferente de acordo com a sua idade, personalidade e realção que têm consigo, sendo por isso difícil de prever a reação.
As crianças podem reagir não querendo comer, domir mal e apresentar dificuldades de concentração na escola. Podem reagir de forma desporprocionada a problemas sem importância e, as crianças mais pequenas, podem até reverter para comportamentos que já não tinham há muito tempo como, por exemplo, falar à bebé ou fazer xixi na cama. O importante é estar preparada para essas diferentes reações e encará-las como normais.
No caso de estas situações se prolongarem ou sejam difíceis de perceber ou corrigir deve procurar ajuda junto dos profissionais de saúde.
Como poderá a escola ajudar-me com o meu filho?
Comunicar à escola pode parecer inadequado, mas poderá permitir-lhe delinear, com os professores e auxiliares, o tipo de apoio que considera mais apropriado para o seu filho.
Pense sobre o apoio que gostaria de ter e seja calra quando o solicitar. Os professores, muitas vezes, não sabem o que fazer, a não ser que sejam ajudados.
Alguns pontos a considerar:
- Peça um contacto telefónico/e-mail que possa usar de forma mais direta;
- Decida de que forma quer ser contactada para receber qualquer informação sobre o seu filho;
- Por vezes, as consultas, exames ou tratamentos ocorrem em horários que o impedem de ir levar ou buscar a crianças à escola; estabeleça uma forma de informar a escola;
- Forneça à escola nomes e contactos de adultos que a possam substituir nestas funções;
- Informe a escola que linguagem usou para dizer ao seu filho que tem cancro, para que não sejam usados termos que este possa não entender;
- Se a criança depende inteiramente só de si ou se surgirem outro tipo de complicações deve informar a escola para que possa dar o melhor apoio possível.
Para mais esclarecimentos pode falar com o seu especialista ou com associações de doentes que a poderão pôr em contacto com outros pais que estejam a passar pelo mesmo.
Conheça, abaixo, a história de Ana Cristina Videira, mãe de dois filhos adolescentes na altura em que lhe foi diagnosticado cancro de mama:
10 março 2023
Relacionados
-
“Não tenho mama, mas sou feliz”
No âmbito do Dia Mundial do Cancro - que se assinala hoje, dia 4 de fevereiro - a sobrevivente oncológica Ana Cristina Videira partilha o seu testemunho sobre o que sentiu quando foi diagnosticada e o impacto da doença na sua vida
-
Fazer uma higiene oral adequada pode diminuir o risco de cancro
15 em cada 100 mil portugueses tem cancro oral, o sexto mais comum no mundo.23.03.2023 às 19h01
-
Cancro da próstata. Se tem mais de 50 anos saiba que deve fazer rastreio
Este é o alerta deixado pelos especialistas. Em Portugal são diagnosticados cerca de 4 mil casos de cancro da próstata por ano.23.03.2023 às 18h35
-
Má saúde oral está diretamente relacionada com 23 doenças e cinco tipos de cancros
A conclusão é de um estudo do centro de investigação da Egas Moniz School of Health and Science divulgado no Dia Mundial da Saúde Oral. Diabetes, obesidade e asma são algumas das doenças.20.03.2023 às 13h58
-
Investigadores da FMUP relacionam cancro da próstata com microbiota genital e urinária
O objetivo é encontrar um diagnóstico precoce do cancro da próstata para ajudar a comunidade científica e os clínicos a adotar novas opções terapêuticas.20.03.2023 às 11h55
-
Estudo associa infertilidade inexplicável a genes que causam cancro e doenças cardíacas
Cerca de 17% das mulheres com infertilidade inexplicável têm também variantes genéticas associadas à causa de várias doenças, entre as quais cancro, indica um estudo do Medical College of Georgia nos EUA.17.03.2023 às 20h02
- 0:00
Leucemia: medicamento experimental fez desaparecer sinais cancerígenos
Os especialistas estão otimistas com os resultados do fármaco experimental, mas a investigação tem, ainda, um longo caminho pela frente.16.03.2023 às 17h33
E Depois