As propriedades dos cogumelos podem ajudar no combate ao cancro colorretal?

O cogumelo Cantharellus cibarius apresenta uma cor amarela ou alaranjada, pregas bifurcadas e frutifica junto de carvalhos ou pinheiro, em pleno outono ou na primavera.
Um grupo de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) irá estudar, até 2026, o poder anticangerígeno de cogumelos comestíveis que se podem encontrar na gastronomia portuguesa. São commumente conhecidos como cogumelos crista de galo, amarelinhos ou sancha, mas o seu nome técnico é Cantharellus cibarius e servirão de objeto de estudo para perceber se as suas biomoléculas podem ou não ajudar a promover a saúde e combater o cancro colorretal.
Por um lado, devido às suas propriedades nutritivas, estes cogumelos podem contribuir para o aparecimento de novas terapêuticas. Por outro lado, devido à localização gastrointestinal desta neoplasia, as descobertas e intervenções feitas através alimentos e nutrientes poderão ser benéficas para ajudar na prevenção e/ou como complemento terapêutico.
De recordar que este é um dos cancros com maior incidência no país, com cerca de 7 mil novos casos, por ano, mais de metade dos casos de cancro digestivo, cujo dia nacional se assinalou no passado dia 30 de setembro. Os casos de cancro digestivo rondam os 10 mil, por ano, e nele estão incluídos - para além do cólon e do reto - os cancros do pâncreas, do esófago, do estômago e do fígado.
“Esta investigação exploratória é essencial para abrir caminho a terapias inovadoras para o cancro e para a sua prevenção. O projeto assenta numa abordagem que integra estudos moleculares, celulares e funcionais da fração isolada de pequenos RNAs não codificantes (sRNAs) do cogumelo Cantharellus cibarius em células de cancro de cólon humano”, explica a investigadora Daniela Ferreira, doutorada em Genética Molecular, Comparativa e Tecnológica pela academia transmontana, no artigo publicado pela UTAD. “Estes sRNAs exibem uma eficácia notável na indução de apoptose (tipo de morte celular programada) e no impedimento da proliferação celular em células cancerígenas, sem efeitos adversos nas células normais. Além disso, os resultados preliminares sugerem que o seu efeito deverá ser dependente de sequência”, explica a investigadora responsável.

A investigadora Daniela Ferreira
O projeto tem o nome de MUSHROOM4LIFE (Cogumelo para a vida, em português) e é financiado em €50 mil pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e será desenvolvido numa colaboração entre os pólos do “BioISI – Biosystems & Integrative Sciences Institute” e do “RISE-Health” e o Centro de Química-Vila Real (CQ-VR) na UTAD.
Como também é referido na publicação feita pela universidade, numa primeira fase, os investigadores vão recorrer à técnica de cromatografia de troca aniónica para isolar pequenos RNAs de Cantharellus cibarius. Seguir-se-á a sequenciação de nova geração e o desenho de sRNAs sintéticos para a realização de um estudo funcional.
“Queremos identificar a sequência responsável pelo fenótipo de apoptose e de diminuição da proliferação celular, as vias celulares e os alvos em células de cancro de cólon humano. Numa última fase, utilizaremos esferóides tumorais multicelulares 3D para avaliar a atividade anti-tumoral destes RNA (sintéticos e fração isolada)”, conclui a investigadora.
03 outubro 2024
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