Radioterapia: "Hoje conseguimos tratar mais eficazmente os tumores e poupar os órgãos saudáveis"

Katia Jacob, física médica no Hospital da CUF Descobertas, em Lisboa, na sala onde se encontra um acelerador linear, máquina usada para realizar os tratamentos de radioterapia
A data escolhida coincide com um marco histórico: o tratamento do primeiro doente num acelerador linear, tecnologia que revolucionou a prática clínica e o tratamento do cancro em todo o mundo. O Dia Internacional da Sensibilização para a Radioterapia assinala-se a 7 de setembro e tem como objetivo sensibilizar a sociedade para a importância da radioterapia como modalidade terapêutica essencial no tratamento oncológico, bem como valorizar os profissionais que, diariamente, contribuem para a sua segurança, eficácia e humanização.
"A radioterapia é o tratamento de tumores com radiações ionizantes. Estas radiações têm a capacidade de penetrar nas células e danificar o DNA, destruindo-as", começa por explicar Katia Jacob, física médica no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa e vice-presidente da ApFisMed (Associação Portuguesa dos Físicos Médicos). O objetivo, acrescenta, é controlar o crescimento do tumor ou, em casos paliativos, aliviar sintomas como a dor.
Esta técnica pode tratar inúmeros tumores, desde próstata, mama, reto, cabeça e pescoço, tumores cerebrais, pulmão, entre outros.
Mas se há 20 anos a radioterapia era aplicada de forma mais abrangente, através dos chamados campos estáticos (3D), hoje os aceleradores lineares permitem técnicas altamente diferenciadas, conseguindo cingir a radiação ao tumor, poupando os órgãos de risco.
A técnica VMAT (arcoterapia volumétrica modulada), por exemplo, permite irradiar em rotação, com múltiplas entradas, poupando ainda mais os órgãos saudáveis e aumentando a eficácia do tratamento. Ou a técnica SBRT que permite, com doses mais elevadas e focadas numa lesão pequena, tratar lesões pouco visíveis ou em estádios iniciais. Trata, por exemplo, metástases muito pequenas, prolonga o tempo de vida e até mantém o doente sem sinais de tumor durante vários anos, explica Katia Jacob.
"A radioterapia é uma área muito tecnológica, em constante evolução. As novas técnicas permitem dar doses mais elevadas aos tumores e, ao mesmo tempo, poupar os órgãos saudáveis. Isto traduz-se em tratamentos mais eficazes e com menos efeitos adversos", sublinha a especialista.
No caso do cancro da mama e da próstata, duas das neoplasias malignas com maior incidência e mais tratados em Portugal, a radioterapia é hoje aplicada de forma mais curta e intensiva, através do hipofraccionamento, que reduz o número de sessões.
"É um tratamento personalizado: cada doente tem imagens próprias, um plano específico e técnicas adaptadas. Por exemplo, numa mama esquerda, podemos usar a inspiração forçada para afastar o coração da zona irradiada e protegê-lo", explica a física médica.



Uma equipa multidisciplinar nos bastidores
A radioterapia envolve uma rede de profissionais: radio-oncologistas, técnicos de radioterapia, físicos médicos, dosimetristas, enfermeiros, auxiliares e nutricionistas. "Os doentes, muitas vezes, não têm consciência do trabalho que está por trás. Nós, físicos médicos, garantimos o controlo de qualidade dos equipamentos, a distribuição de dose e a implementação de novas técnicas. Estamos nos bastidores, mas sempre em prol da segurança e eficácia dos tratamentos", refere Katia Jacob.
Não obstante, apesar da evolução tecnológica, persistem desigualdades no acesso. "Temos centros grandes, mas em algumas zonas do interior os doentes precisam de percorrer muitos quilómetros diariamente para receber radioterapia. É essencial renovar os equipamentos e garantir que todos têm acesso às técnicas mais avançadas", defende.
Neste Dia Internacional da Radioterapia, a especialista deixa um apelo: “A radioterapia é segura e fundamental no tratamento do cancro. Cerca de 50% dos doentes vão precisar dela. Precisamos de consciencializar a sociedade e os decisores para que continue a evoluir e esteja disponível para todos”.
07 setembro 2025
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