O aparecimento de cancro pode ser um dos preços a pagar por vivermos mais?

"Cancro e longevidade" foi o tema que deu mote ao primeiro debate televisivo do ano, realizado pelo projeto editorial da SIC Notícias e do Expresso, Tenho Cancro. E depois?
José Fernandes
Atualmente, o cancro é considerado - por muitos - uma doença crónica. Com a consequente evolução das terapêuticas, os sobreviventes de cancro aumentam. No entanto, com o incremento da esperança média de vida, também são cada vez mais os novos casos de cancro que aparecem entre a população portuguesa, o que evidencia o facto da idade ser um dos maiores factores de risco para o aparecimento de cancro. Basta olhar para os dados para percebermos que esta realidade está em crescendo: em 2019 foram diagnosticados mais 11 mil novos casos de cancro do que em 2010.
Mas como pode o país fazer frente a esta realidade?
Com o objetivo de responder a esta questão fundamental, o Tenho Cancro. E depois? organizou um debate, na SIC Notícias, focado na relevância da investigação, na importância do diagnóstico precoce do cancro, na urgência em melhorar a organização e articulação dos cuidados de saúde e, por último, no reforço das estratégias que permitam que os doentes e os sobreviventes de cancro possam ter qualidade de vida em todas as esferas da sua vida, da laboral à social.
Para debater estas temáticas mais prementes da oncologia nacional estiveram em estúdio Luís Costa, diretor do serviço de oncologia do Hospital Santa Maria, Fátima Cardoso, diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico da Fundação Champalimaud, Júlio Oliveira, presidente do IPO do Porto e Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO).
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portugueses irão ter cancro num futuro próximo. É urgente aumentar a literacia em Saúde para que a população saiba onde e como se deve tratar e o que pode fazer para evitar ou detectar precocemente o seu aparecimento.



Conheça, abaixo, as principais conclusões da sessão:
- O número de casos de cancro em estado mais avançado tem vindo a aumentar um pouco por todo o país. Apesar de não se saber ao certo o que está a causar este aumento, sabe-se que a pandemia contribuiu para que muitos portugueses não fizessem rastreios, devido à suspensão dos mesmos, nem se dirigissem aos cuidados de saúde primários, que estiveram focados no combate à covid-19;
- É urgente discutir a sustentabilidade do sistema, sendo que o modelo em vigor garante tratamentos contra o cancro gratuitos. “Por vezes, falamos de tecnologias e terapêuticas que - por doente - custam mais de €300 mil”, conta Júlio Oliveira, sendo por isso preciso avaliar estes custos de forma a perceber até quando o Estado estará capacitado para os suportar;
- “Precisamos de um plano de contingência para o cancro pós-covid”, sublinha Luís Costa. O diretor do serviço de oncologia do maior hospital do país assume que é imperativo redimensionar os serviços de oncologia devido à procura que estes estão a ter;
- Fátima Cardoso põe a tónica no tempo de espera demasiado longo que existe entre o momento do diagnóstico e o início dos tratamentos. “Estamos a falar de atrasos que duram meses, e meses quando se fala de cancro é demais. Deviam ser dias ou semanas”, explica;
- Detectar precocemente (nomeadamente através de rastreios, mas não só) é a melhor e mais barata forma de tratar o cancro, mas se o sistema não der seguimento após um diagnóstico, os doentes continuarão a não ter acesso aos melhores cuidados;
- Os especialistas apontam para a necessidade de existir uma maior colaboração entre o sector público e privado para que se consiga dar uma resposta célere ao doente com cancro. Como lembra Miguel Abreu, presidente da SPO, “demorará algum tempo para que se formem mais oncologistas e para que estes se fixem no SNS” que - como se sabe - não é percepcionado como atrativo;
- A investigação do cancro pode ser um dos gatilhos para uma melhor oncologia nacional. Apostar na investigação, sobretudo na de translação e na clínica - que são as que apresentam maiores lacunas neste momento - ajudará a fixar profissionais no SNS e a garantir que os portugueses têm acesso à inovação. De recordar que, nos dias de hoje, Portugal tem menos de 3% dos ensaios clínicos que se fazem a nível mundial, sendo que a vizinha Espanha detém 20%. “Não é uma questão de território, mas sim de organização”, lembra Júlio Oliveira;
- Fátima Cardoso acredita que é preciso apostar, sobretudo, em ensaios clínicos que não estejam dependentes de farmacêuticas;
- Para uma melhor investigação, além de organização, são precisos mais recursos humanos para criar equipas que sejam compostas não apenas por médicos, mas por outros profissionais de saúde;
- Para Luís Costa deve olhar-se para o Registo Oncológico Nacional como uma ferramenta poderosa que pode ajudar na investigação baseada na realidade. Saber quantos casos de determinado cancro há, onde e como estão estes a ser tratados é fundamental para tomar decisões;
- Miguel Abreu considera que é preciso olhar para o doente além do cancro. Isto é, é imperativo que o sistema se foque na qualidade de vida do doente com cancro - onde os cuidados paliativos se incluem - garantido que este terá todo o apoio a nível social e laboral. Para isso, é preciso que haja leis e políticas que possam garantir a manutenção de uma vida digna. Do ponto de vista médico, também os fármacos com menor toxicidade - ou seja, que têm menos hipóteses de deixar sequelas - devem ser privilegiados. “Se um fármaco for muito eficaz, mas muito tóxico, não tem valor nos dias de hoje”, conclui Miguel Abreu
As frases que marcaram o debate
“A melhor maneira de tratar o cancro de forma eficaz e barata é detectá-lo cedo”
Luís Costa, diretor do serviço de oncologia do Hospital de Santa Maria
“Os ensaios clínicos são uma forma de contribuir para a sustentabilidade, não só do SNS, como do sistema de Saúde como um todo, porque são também uma forma de o financiar”
Júlio Oliveira, presidente do IPO do Porto
“Adiram aos rastreios, procurem-nos. É uma chance que não devem perder”
Miguel Abreu, presidente da SPO
“Quando falamos de longevidade, sabemos que vamos precisar - cada vez mais - dos especialistas de Medicina Geral e Familiar”
Fátima Cardoso, diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico da Fundação Champalimaud
12 abril 2023
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Apostar na investigação do cancro para obter melhores resultados é prioridade para a Europa
As declarações de alguns dos protagonistas da reunião de lançamento do projeto ECHoS, que trouxe a Portugal diversos especialistas em cancro e saúde pública.10.05.2023 às 15h05
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"A prevenção e o diagnóstico precoce do cancro é a forma mais eficaz, barata e que resolve melhor os problemas junto da população"
As declarações de Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal, após o debate - organizado pelo Tenho Cancro. E depois? - dedicado ao caminho que Portugal deve percorrer (alinhado com as metas europeias) no combate ao cancro, valorizando a investigação e o envolvimento de todos os cidadãos.10.05.2023 às 12h15
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"A seguir à doença cardiovascular, o cancro é a doença que tem maior mortalidade no nosso país"
As declarações de Maria Rita Dionísio, diretora médica da Novartis Portugal, após o debate - organizado pelo Tenho Cancro. E depois? - dedicado ao caminho que Portugal deve percorrer (alinhado com as metas europeias) no combate ao cancro, valorizando a investigação e o envolvimento de todos os cidadãos.10.05.2023 às 12h11
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"A Missão Cancro quer trazer a investigação para junto dos cuidados clínicos, para junto das pessoas"
As declarações de Jorge Lima, da ASPIC, após o debate - organizado pelo Tenho Cancro. E depois? - dedicado ao caminho que Portugal deve percorrer (alinhado com as metas europeias) no combate ao cancro, valorizando a investigação e o envolvimento de todos os cidadãos.10.05.2023 às 12h09
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"O grande objetivo é melhorar a qualidade de vida e a sobrevivência dos doentes oncológicos"
As declarações de Isabel Fernandes, do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, após o debate - organizado pelo Tenho Cancro. E depois? - dedicado ao caminho que Portugal deve percorrer (alinhado com as metas europeias) no combate ao cancro, valorizando a investigação e o envolvimento de todos os cidadãos.10.05.2023 às 12h07
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"Queremos trazer o cidadão para esta conversa e desmistificar o cancro"
As declarações de Anabela Isidro, coordenadora do projeto ECHoS, após o debate - organizado pelo Tenho Cancro. E depois? - dedicado ao caminho que Portugal deve percorrer (alinhado com as metas europeias) no combate ao cancro, valorizando a investigação e o envolvimento de todos os cidadãos.10.05.2023 às 12h05
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