Os Debates

Cancro: da normalização da palavra aos desafios mais prementes

O Tenho Cancro. E depois? - projeto editorial da SIC Notícias e do Expresso - reuniu curadores, especialistas, associações de doentes e pessoas ligadas ao universo do cancro para que, em conjunto, discutissem e apresentassem soluções para melhorar a oncologia do país

“Este projeto serviu para a normalização do cancro, um tema que cruza a vida de todos", começou por referir Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, no arranque da sessão organizada pelo Tenho Cancro. E depois?, uma iniciativa que serviu para assinalar os cinco anos do projeto que, ao longo deste tempo, tem debatido os temas mais prementes da oncologia, ouvindo especialistas, doentes, sobreviventes, familiares e associações de doentes.

Tendo em conta o crescente número de novos casos que surgem todos os anos (cerca de 60 mil), o objetivo último do projeto é aumentar a literacia de todos os portugueses em relação à doença, normalizando-a e nutrindo a população de conhecimento para que, caso o cancro lhes bata à porta, possam agir da forma mais informada possível. “É preciso investir cada vez mais na prevenção, em particular na deteção precoce”, considera Ana Rita Gomes, administradora da Multicare, seguradora que este ano se junta ao projeto.


60 mil

novos casos de cancro surgem, em Portugal, todos os anos. Mas, se for detectada a tempo, é (na maioria das vezes) uma doença tratável.

Além da prevenção e deteção precoce da doença - fundamental para um melhor prognóstico de cancro - Simon Gineste, presidente do Grupo Novartis Portugal, assume que apesar do caminho percorrido até aqui, “há muito a fazer”, sendo por isso necessário “olhar para o futuro”. Nesse sentido, com os olhos postos no futuro, o Tenho Cancro. E depois? quis ouvir o que os seus curadores têm a dizer, assim como aqueles que lidam - de uma forma ou de outra - com a doença todos os dias.

Conheça, abaixo, as principais conclusões do debate:

- Tendo em conta o aumento da longevidade, cada vez mais os cuidados paliativos são um serviço necessário para garantir o máximo de qualidade possível às pessoas com cancro que não se curam. “ Viver com um cancro que não se cura não tem que ser sinónimo de sofrimento”, sublinha a curadora do Tenho Cancro. E depois, Isabel Galriça Neto;

- Luís Costa, diretor do Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria põe a tónica na necessidade de aumentar a literacia também nos profissionais de saúde, assim como na necessidade dos especialistas em terem mais tempo para poderem fazer melhor. “Se queremos ser personalizados no tratamento, temos que o ser na gestão”, defende;

- A mesma opinião é partilhada por Rui Henrique, do IPO do Porto, quando diz que “os doentes também têm que estar no centro da decisão”, e merecem ser ouvidos sobre questões relacionadas com as instalações onde funcionam os serviços ou o tipo de abordagem a que estão sujeitos;

- É preciso divulgar os temas ligados ao cancro de uma forma mais leve e que chegue também aos mais novos. Para isso, tem que haver uma normalização do discurso porque “talvez o foco não esteja na doença, mas na saúde”, acredita Marine Antunes, escritora, palestrante e sobrevivente de cancro;

- Um sistema integrado e global é um dos objetivos a atingir pela oncologia nacional e que foi apontado por Margarida Ornelas, presidente do IPO do Porto. “A tecnologia vai ser fundamental neste processo, mas não devemos tirar o foco do doente”, lembra;

- No que ao cancro pediátrico diz respeito, a Acreditar, que se fez representar por Susana Bicho, chama a atenção para a necessidade do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas contemplar de uma forma mais clara e aprofundada esta temática, sobretudo no que toca aos sobreviventes, ouvindo associações, famílias e doentes. Outra lacuna que persiste é o facto que não existir um Registo Oncológico Nacional para oncologia pediátrica que esteja atualizado. O voluntariado nestas associações (que apoiam as famílias de crianças e adolescentes com cancro) também é “muito importante”, lembra Margarida Vieira Martins, Fundação Infantil Ronald McDonald;

- Portugal está a desenhar, neste momento, um registo eletrónico único, “fundamental para que todos possamos ter os nossos exames/história clínica no bolso, sem ter que duplicar consultas”, explica Sandra Cardoso, da SPMS;

- O papel da investigação do cancro é fundamental para se solidificarem os conhecimentos de vanguarda da medicina, onde a oncologia se inclui. Para que o contributo da Ciência seja cada vez mais visível e pertinente “a investigação deve ser mais real e alinhada com o que precisamos para os próximos tempos”, sugere Sónia Dias, diretora da Escola Nacional de Escola Pública. Já Sérgio Dias, investigador no IMM e no Hospital de Santa Maria, acredita que para que as pessoas entendam os benefícios reais da investigação deve-se “incentivar e comunicar a Ciência de uma forma muito ativa”;

- Para Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal, os temas tratados pelo Tenho Cancro. E depois “merecem outro tipo de amplificação e disseminação”, sobretudo numa altura em que, como diz o especialista, há cada vez mais doentes, em estadios mais avançados e cada vez mais jovens, num país onde “as políticas de prevenção e diagnóstico precoce estão deitadas ao desprezo”;

- Para Eva Falcão, presidente do IPO de Lisboa, a captação de profissionais e retenção dos mesmos é prioritário para conseguir tratar todos com qualidade. "Temos que lhes oferecer projetos de realização profissional”, conclui.

Saiba mais sobre esta temática, nomeadamente sobre a necessidade de envolver o cidadão no que ao cancro diz respeito, na próxima edição do Jornal Expresso (nas bancas a 9 de junho).

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