Vida

Nobel da Paz 2010 atribuído ao dissidente chinês Liu Xiaobo

O Prémio Nobel da Paz foi este ano atribuído ao dissidente chinês Liu Xiaobo, veterano da dissidência que cumpre pena de prisão há já dois anos.

"Liu Xiaobo foi distinguido pela sua luta longa e não violenta pelos direitos fundamentais da China", declarou o Comité Nobel Norueguês.

O mais proeminente dissidente chinês tem sido uma "pedra no sapato" de Pequim.

Em 1989, aliou-se aos estudantes numa greve de fome, dias antes do massacre de Tiananmen.

O ano passado, Liu foi condenado a uma pena de prisão de 11 anos por ter escrito, em conjunto com outros activistas chineses, o "Charter 08", um manifesto pela liberdade de expressão, pela independência do poder judicial e pela realização de eleições multipartidárias - um eco intencional do "Charter 77", apelo em nome dos direitos humanos na ex-Checoslováquia lançado por Vaclav Havel, que levou ao fim da era comunista no país.

"Devemos tornar universal a liberdade de expressão e de imprensa, garantindo que os cidadãos possam ser informados e exercer os seus direitos de supervisão política (...) Devemos acabar com a prática de encarar as palavras como crimes", proclama o "Charter 08".

O Partido Comunista chinês assumiu o documento, assinado por milhares de pessoas, como um desafio directo e condenou Liu por tentar "subverter o governo".

Liu Xiaobo é doutorado em literatura chinesa.

Ensinou numa universidade em Pequim, mas foi banido do ensino oficial pelo seu envolvimento nas manifestações estudantis de 1989, consideradas pelo governo como "uma rebelião contra-revolucionária".

Depois da repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, esteve preso durante cerca de um ano e meio, até ao início de 1991.

Entre 1996 e 1999, foi de novo detido e internado num "campo de reeducação através do trabalho".

Estados Unidos e União Europeia pediram várias vezes a libertaçao de Liu Xiaobo.

Em dezembro passado, o porta-voz do departamento norte-americano de Estado disse que um julgamento de Liu Xiaobo "não é próprio de um grande país".

O governo chinês rejeitou as críticas ocidentais ao processo, considerando-as uma "ingerência grosseira nos assuntos internos da China".

"Sinal poderoso da comunidade internacional"

A atribuição do prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo é "encorajador" para o povo chinês, pois é um "sinal" de que a comunidade internacional condena a atuação de Pequim em matéria de direitos humanos, defendeu Emily Lau, vice-presidente do Partido Democrático de Hong Kong e deputada.

"Estou muito satisfeita com o facto do prémio Nobel da Paz ter sido atribuído a Liu Xiaobo, pois ele tem feito muito pela paz, pelos direitos humanos e tem também sofrido muito por isso", disse.

"Este prémio é um sinal muito poderoso de que a comunidade internacional reconhece o esforço de Liu Xiaobo pela defesa dos direitos humanos na China e é encorajador para o povo chinês, que tem sofrido muito", acrescentou.

com Lusa