Vida

Neuroléticos e antidepressivos postos em causa no tratamento de demência 

Dois estudos distintos publicados em revistas  médicas britânicas colocam em causa a utilização dos neuroléticos e anti  depressivos no tratamento dos doentes de demência, foi revelado hoje numa  conferência internacional, em Paris, sobre a doença de Alzheimer. 

© Darren Staples / Reuters

Sube Banerjee, do Kings College de Londres, autor em 2009 de um relatório  sobre a utilização abusiva dos anti psicóticos (neurolépticos) na doença  de Alzheimer, revela hoje que dois anti depressivos (os mais prescritos  para doentes afetados de demência) não trazem benefícios, pelo contrário,  provocam efeitos secundários. 

Para este estudo, publicado em linha pela revista The Lancet, Banerjee  recrutou pacientes britânicos com uma provável doença de Alzheimer e que  sofriam de uma depressão, no total de uma centena. 

Os mesmos foram repartidos em três grupos, dois dos quais medicados  com um anti depressivo (sertralina ou mirtazepina) e o terceiro com um placebo  (sem princípio ativo). 

Os investigadores não encontraram diferenças na redução da depressão  ao fim de três meses de experiência nos diferentes grupos. Em contrapartida,  os doentes medicados com um anti depressivo apresentaram desvantagens de  efeitos secundários relativamente aos que tomaram o placebo. "As duas classes de anti depressivos -- os mais prescritos para a depressão  derivada da doença de Alzheimer -- não são mais eficientes do que um placebo",  concluem os investigadores citados no artigo. "Os médicos deverão repensar o tratamento dos doentes com Alzheimer  e reconsiderar os seus hábitos de prescrição de antidepressivos", acrescentam.

Um outro estudo, publicado em paralelo pelo British Medical Jounal,  demonstra, por seu turno, que os analgésicos como o paracetamol podem ter  resultados mais positivos que os neuroléticos para aclamar a agitação dos  doentes com demência. 

A agitação e a agressividade são os sintomas mais frequentes das formas  avançadas de demência, como a doença de Alzheimer. Os comportamentos perturbantes  são tratados habitualmente com neuroleticos. Este estudo foi elaborado por investigadores britânicos do King's College  e noruegueses num universo de 352 doentes noruegueses acometidos de doença  moderada ou severa. 

A maioria dos doentes sujeitos ao estudo continua a tomar a sua medicação  normal, que inclui os neuroléticos e os anti depressivos. Os restantes estão  a ser tratados, em 70 por cento dos casos, com paracetamol, 20 por cento  com buprenorfiva (um substituto químico da heroína) e os restantes 10 com  analgésicos com base na morfina. De acordo com o estudo, os investigadores verificaram uma "significativa  redução" da agitação ao fim de oito semanas de tratamento no segundo grupo  em relação ao primeiro. 

Os cientistas sublinham que o alívio da dor, dificilmente exprimida  pelos doentes de demência, pode ter um papel relevante no tratamento da  agitação e permite reduzir a prescrição inútil de neuroléticos.  Num relatório enviado ao governo britânico em 2009, Banerjee indica  que os médicos britânicos prescrevem todos os anos neuroléticos a 180 mil  doentes com demência. 

No mesmo ano, em França, a Alta Autoridade para a Saúde alertou contra  uma prescrição excessiva e inadaptada destes medicamentos para a doença  de Alzheimer. 

 

      Lusa