Numa entrevista conduzida por Ana Patrícia Carvalho, Carlos Moedas abordou o futuro governativo e o crescimento do Chega, defendendo que os portugueses estavam desesperados com a política e votaram no populismo.
O presidente do Chega, André Ventura anunciou esta segunda-feira que o PSD viabilizará os candidatos do partido para a mesa do parlamento e indicou que, "no seguimento desta informação", irá transmitir aos seus deputados que apoiem também os nomes dos sociais-democratas.
Para o autarca de Lisboa, não vai haver acordo entre os dois partidos de direita, afirmando que o voto é secreto e que os deputados eleitos votam "segundo a sua consciência".
"Penso que haja nenhum acordo. Há um órgão de soberania, que é a Assembleia da República, em que os deputados vão reunir-se pela primeira vez, vão escolher o presidente da Assembleia da República, que penso que será José Pedro Aguiar-Branco. E essa Assembleia da República, deve refletir o voto dos portugueses", começou por dizer.
"Não penso que haja um entendimento. O voto é secreto. Os deputados votam segundo a sua consciência. A AD não vai governar com o Chega mas um presidente da Assembleia da República tem de ter muito cuidado na diversidade naquilo que foi a fotografia que o povo português retirou destas eleições com estes partidos", acrescentou.
“O resultado do Chega é consequência do desespero das pessoas”
Nas eleições de 10 de março, o Chega conseguiu eleger 50 deputados, um grande resultado para um partido com apenas cinco anos de existência. Carlos Moedas aponta que este resultado deveu-se ao populismo e ao desespero dos portugueses com a política.
"Este resultado do Chega é consequência do populismo, do desespero das pessoas, que levou os portugueses desesperados com a política a votarem no populismo. A solução passa por respeitar a decisão neste ato eleitoral e que isso seja refletido na Assembleia da República", referiu.
"Santos Silva teve muita culpa no crescimento do Chega"
O autarca lisboeta refere ainda que o Partido Socialista, que esteve no Governo nos últimos anos, foi o principal culpado para o crescimento do Chega, mas Augusto Santos Silva, que está a deixar a liderança da Assembleia da República, também “teve muita culpa”.
“O Partido Socialista tem muita culpa naquilo que estamos a viver. Primeiro na má governação e mas também no crescimento do populismo. E aquilo que aconteceu na Assembleia da república infelizmente foi dar palco ao Chega. Augusto Santos Silva teve muita culpa nisso”, defendeu.
Sai Santos Silva, entra Aguiar-Branco
Augusto Santos Silva está em final de mandato na presidência da Assembleia da República e o senhor que segue será José Pedro Aguiar-Branco, ao que tudo indica. Para Moedas, a escolha é acertada, porque com uma grande experiência política, Aguiar-Branco "consegue juntar vontades".
"José Pedro Aguiar-Branco tem várias características. É um homem com muita experiência política, com experiência parlamentar e é um homem de serenidade e calma na governação. Consegue juntar vontades. Penso que fará um grande papel. Precisamos de uma pessoa como ele", atirou.
“Excedente orçamental? Não sei se são boas notícias”
O excedente orçamental no ano passado foi superior em mil milhões de euros ao orçamentado, sobretudo devido a um contributo maior do que o estimado da receita contributiva e fiscal. O Estado alcançou um excedente histórico de 1,2% do Produto Interno Bruto em 2023, superando a meta de 0,8% inscrita no relatório do Orçamento do Estado para 2024.
Para o social-democrata, esta notícia poderá não ser propriamente uma boa notícia para o Executivo de Luís Montenegro, prevendo que a "folga" orçamental irá desaparecer devido à descida da inflação e à redução da carga fiscal que o novo Governo terá de operar.
"Primeiro que excesso estamos a falar? Quando tivemos uma inflação, que no fundo é a justificação para essa folga. Assim que a inflação descer, essa folga desaparece. Depois temos uma carga fiscal elevada. Nós temos que uma folga que vai baixar porque a inflação e o novo Governo terá de baixar os impostos. Não sei se isto são boas notícias para o Governo que aí vem", analisou.
“O povo está contente com esta mudança. Há um novo respirar”
O PSD venceu as eleições legislativas de 10 março, derrubando oito anos de governação socialista. Carlos Moedas refere que o país está feliz pela mudança à direita.
"O Partido Socialista em 30 anos governou 23. As pessoas estavam muito cansadas. Há um novo respirar. O povo está contente com esta mudança", afirmou.