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Irão afirma ter produzido míssil balístico hipersónico

O que é um míssil hipersónico, porque é perigoso, quem o tem - ou afirma ter.

Foto divulgada pela Coreia do Norte com teste de alegado míssil hipersónico a 5 de janeiro de 2022.
Foto divulgada pela Coreia do Norte com teste de alegado míssil hipersónico a 5 de janeiro de 2022.
朝鮮通信社/Korean Central News Agency/Korea News Service via AP

O Irão afirma ter produzido o seu primeiro míssil balístico hipersónico, anunciou hoje o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, Amirali Hajizadeh.

Um míssil hipersónico tem a característica de se deslocar a velocidades superiores a cinco vezes a velocidade do som (Mach 5).

"Este míssil balístico hipersónico pode passar escudos de defesa antiaérea. Poderá passar por todos os sistemas de defesa antimísseis", garantiu o responsável, citado pela agência Fars e pela agência France-Presse.

"Este míssil, que tem como alvo os sistemas antimísseis inimigos, representa um grande avanço no domínio dos mísseis Este sistema é muito rápido e é capaz de manobrar tanto dentro como fora da atmosfera".

São vários os países que estão a tentar desenvolver esta tecnologia. De acordo com a a revista Janes, os mísseis hipersónicos representam desafios para os radares devido à sua alta velocidade e grande capacidade de manobra.

O que é um míssil hipersónico?

Os mísseis hipersónicos são muito mais rápidos e ágeis do que os convencionais o que os torna muito mais difíceis de interceptar por sistemas de defesa antimísseis. São capazes de atingir uma velocidade de pelo menos cinco vezes superior à velocidade do som (Mach 5), ou seja, mais de 6.100 km/h.

Podem manobrar em pleno voo, o que os torna muito mais difíceis de detetar e interceptar do que outros projéteis.

O tempo de voo é reduzido, pelo que diminui a probabilidade de serem interceptados. Alguns modelos podem carregar ogivas convencionais ou nucleares.

Quem tem (ou afirma ter) mísseis hipersónicos?

Vários países tentam desenvolver mísseis hipersónicos. Rússia, Coreia do Norte e Estados Unidos anunciaram em 2021 que tinham realizado testes, reacendendo os receios de uma nova corrida ao armamento.

A Rússia estará à frente com o desenvolvimento de vários tipos desses mísseis. o Zircon, que Moscovo anunciou a 7 de novembro de 2022 ter testado com sucesso a partir de um submarino, o Kinjal, que já equipa a Força Aérea, e mesmo o planador hipersónico Avangard que, depois de lançado, pode carregar uma carga nuclear, voar até 33.000 km/h e mudar de forma imprevisível de rumo ou altitude.

Em agosto, Moscovo anunciou que tinha enviado aviões equipados com mísseis hipersónicos de última geração para Kaliningrado, um enclave russo cercado por países da NATO onde o a guerra na Ucrânia exacerbou as tensões.

Em março, nas primeiras semanas da invasão da Ucrânia, a Rússia anunciou que tinha usado mísseis hipersónicos Kinzhal ou Kinjal para destruir um depósito de armas subterrâneo, no leste da Ucrânia, provavelmente pela primeira vez em combate.

Os Estados Unidos ainda não têm mísseis hipersónicos no seu arsenal, mas estão a trabalhar para isso. A Darpa, braço científico do exército americano, anunciou na semana passada que testou com sucesso seu míssil hipersónico HAWC (Hypersonic Air-Breathing Weapon Concept) com propulsão aeróbia, ou seja, usa oxigénio presente na atmosfera para a combustão.

O Pentágono também está a desenvolver o planador hipersónico chamado ARRW (pronuncia-se Arrow), mas o primeiro teste em grande escala falhou em abril passado.

A China tem vários projetos, que parecem ser inspirados em programas russos, de acordo com um estudo recente do Centro de Pesquisa do Congresso dos EUA (Congressional Research Service). Em particular, testou um planador hipersónico com alcance de 2.000 km capaz de voar a mais de Mach 5 e realizar “manobras extremas”, segundo este estudo.

França, Alemanha, Austrália, Índia e Japão querem desenvolver sistemas hipersónicos e, segundo o Centro de Pesquisa do Congresso, Israel e Coreia do Sul já iniciaram pesquisas sobre a tecnologia.

No início de novembro de 2022, a Coreia do Norte lançou uma série de mísseis e garantiu que testou com sucesso um míssil planador hipersónico, que, a confirmar-se a veracidade da informação, constituiria um grande avanço tecnológico.

Hipersónico ou balístico, qual o míssil mais perigoso?

Mísseis hipersónicos não são necessariamente mais rápidos que os mísseis balísticos.

Um míssil balístico é lançado a grande velocidade para o espaço onde, fora da atmosfera, não encontra resistência. Começa então a cair em direção ao seu alvo, sempre à mesma velocidade, exceto após a reentrada na atmosfera, o que o retarda um pouco.

Um míssil hipersónico voa a baixa altitude. É também lançado em alta velocidade, mas é desacelerado pela atmosfera. E como desacelera ao longo do percurso, pode acabar por ser mais lento que um míssil balístico.

A grande diferença é que o míssil hipersónico é manobrável, o que torna difícil prever a sua trajetória e dificultar a sua intercetação. Os sistemas antimísseis THAAD podem intercetar projéteis a alta velocidade, mas são concebidos para proteger uma área limitada.

Se for um planador hipersónico, os sistemas de deteção antimísseis, que medem fontes de calor, correm o risco de não o reconhecer antes de ser lançado, o que já é tarde demais para intercetá-lo, explica o Pentágono.


Ocidente quer salvar o acordo nuclear de 2015

O anúncio de Teerão ocorre numa altura em o Ocidente tenta há mais de um ano relançar o JCPOA, o acordo nuclear de 2015 entre as grandes potências e o Irão.

Este acordo, destinado a impedir o Irão de adquirir armas atómicas em troca do levantamento de sanções internacionais, está suspenso desde a retirada unilateral, em 2018, dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, o que levou à libertação progressiva por parte de Teerão das suas obrigações.

As negociações, que já estavam num impasse, parecem agora impossíveis.

A 5 de novembro, o Irão também anunciou que tinha testado "com sucesso" um foguetão capaz de transportar satélites para o espaço.

Os governos ocidentais temem que os sistemas de lançamento de satélites incorporem tecnologias intercambiáveis com as usadas em mísseis balísticos capazes de lançar uma ogiva nuclear, que o Irão sempre negou querer construir.

O Irão insiste que o seu programa espacial e nuclear é apenas para fins civis e de defesa e que não viola o acordo de 2015 ou qualquer outro acordo internacional.