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Nova série de disparos norte-coreanos, um míssil balístico terá falhado no ar

Segundo dia consecutivo de lançamento de armamento pela Coreia do Norte. Seul e Washington prolongam exercícios militares.

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A Coreia do Norte disparou hoje três projéteis, entre os quais um míssil balístico intercontinental (ICBM), mas o lançamento parece ter falhado, disse o exército sul-coreano. É o segundo dia de disparos depois de ontem Pyongyang ter lançado 23 mísseis, um dos quais caiu perto das águas territoriais sul-coreanas. A tensão na península está a atingir níveis sem precedentes face aos repetidos testes de armas norte-coreanos, às manobras dos aliados e à possibilidade de, como parecem indicar as imagens de satélite, o regime de Kim Jong-un estar pronto para realizar o primeiro teste nuclear desde 2017.

Segundo o Estado-maior sul-coreano, três projéteis - dois mísseis de curto alcance seguidos de um ICBM - foram lançados na quinta-feira pelo Norte em direção ao mar do Japão.

“O lançamento de um ICBM pela Coreia do Norte resultou provavelmente num fracasso” durante a separação do segundo módulo, afirmou o exército, citado pela AFP.

O míssil percorreu 760 km a uma altitude máxima de 1.920 km à velocidade Mach 15 (15 vezes a velocidade do som). Os dois outros mísseis percorreram cerca de 330 km a Mach 5 e a uma altitude máxima de 70 km, ainda de acordo com o exército sul-coreano.

As sirenes de alerta aéreo soaram pelo segundo dia consecutivo na ilha sul-coreana de Ulleungdo, situada a 120 km a leste da península coreana.

Japão emite segundo alerta

Também o Japão chegou a emitir esta manhã alertas à população de algumas regiões do norte, como Miyagi, Yamagata e Niigata, para que procurassem abrigo ou permanecessem em casa, mas nenhum dos mísseis terá sobrevoado o arquipélago.

Segundo o ministro da Defesa Yasukazu Hamada, “o projétil desapareceu ao sobrevoar o mar do Japão”.

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“O lançamento contínuo de mísseis dia após dia é um ultraje e não pode ser tolerado”, disse o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.

Estes disparos "lembram a necessidade de todos os países implementarem integralmente as resoluções do Conselho de Segurança" da ONU de sanções à Coreia do Norte, sublinhou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price.

Pyongyang disparou 23 mísseis na quarta-feira

Na quarta-feira, a Coreia do Norte disparou 23 mísseis, o maior número contabilizado num único dia, um dos quais cruzou a "Linha de Limite do Norte" (NLL), que prolonga pelo mar a fronteira terrestre.

Um desses mísseis voou na direção da ilha sul-coreana Ulleung povoada e caiu perto da tensa fronteira marítima dos vizinhos rivais. A Coreia do Sul respondeu, lançando mísseis para a mesma área da fronteira marítima.

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A 4 de outubro, um míssil balístico norte-coreano sobrevoou o Japão pela primeira vez em cinco anos. O novo míssil balístico de médio alcance é uma arma que os especialistas consideraram ser capaz de atingir potencialmente Guam, um importante centro militar dos EUA no Pacífico.

A Coreia do Norte tem aumentando as demonstrações de armas a um ritmo recorde este ano, tendo disparado já dezenas de mísseis, incluindo a primeira demonstração de mísseis balísticos intercontinentais desde 2017, enquanto explora uma eventual distração criada pela invasão russa da Ucrânia para impulsionar o desenvolvimento de armas.

As duas Coreias continuam tecnicamente em guerra, uma vez que o conflito de 1950-53 terminou com a assinatura de um armistício e não de um tratado de paz.

EUA condenam lançamento de míssil balístico intercontinental pela Coreia do Norte

Os Estados Unidos já condenaram o lançamento de um míssil balístico intercontinental (ICBM) disparado hoje pela Coreia do Norte, e apelaram à aplicação rigorosa das sanções da ONU contra Pyongyang.

O lançamento "sublinha a necessidade de todos os países implementarem plenamente as resoluções do Conselho de Segurança" da ONU de sancionar a Coreia do Norte, disse o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price.

Washington e Seul prolongam exercícios militares “Tempestade Vigilante”

Os militares sul-coreanos e norte-americanos anunciaram hoje o prolongamento dos exercícios aéreos em grande escala em resposta ao lançamento de mísseis por Pyongyang.

"As Forças Aéreas da República da Coreia [nome oficial da Coreia do Sul] e os Estados Unidos decidiram prolongar o período de formação do exercício aéreo conjunto em grande escala 'Tempestade Vigilante', iniciado a 31 de outubro, devido às recentes e contínuas provocações da Coreia do Norte", de acordo com um comunicado dos Chefes do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, sem especificar datas.

Os lançamentos de Pyongyang são, por sua vez, uma resposta a estes exercícios, que deviam estar concluídos na sexta-feira, e que se assumem como os maiores do género em cinco anos, uma vez que envolveram mais de 200 aviões, incluindo caças furtivos de quinta geração.

Os dois aliados "partilham a opinião de que é necessário exibir uma robusta postura de defesa combinada" face à "atual crise de segurança, que é acentuada pelas provocações da Coreia do Norte", acrescenta-se na mesma nota.

Um porta-voz do Ministério da Defesa sul-coreano disse, numa mensagem aos meios de comunicação social, que os dois lados estão "a discutir os pormenores relativos ao período" para prolongar os exercícios, que incluem a mobilização de F-15, F-16, EA-18G (a versão do caça-bombardeiro F-18 adaptada para cenários de guerra eletrónica), caças F-35A e F-35B, que ao contrário do F-35A podem efetuar descolagens e aterragens verticais.

É a primeira vez que o Pentágono deslocou F-35B para território sul-coreano, fator que pode ter irritado particularmente Pyonyang, que, na terça-feira, já ameaçara responder energicamente a estes exercícios.

Um F-15K da Força Aérea da Coreia do Sul dispara um míssil a norte da fronteira marítima com a Coreia do Norte.
YONHAP NEWS AGENCY

Presidente da Coreia do Sul denuncia uma “invasão territorial de facto”

O Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, considerou que a "provocação norte-coreana é uma invasão territorial 'de facto' por um míssil que atravessou a Linha da Fronteira Norte pela primeira vez desde a divisão" da península, disse a presidência sul-coreana num comunicado emitido na quarta-feira.

Ordenou também "medidas rápidas e severas para fazer a Coreia do Norte pagar um preço elevado pelas suas provocações", acrescentou a presidência, sem especificar.

Futuro ensaio nuclear?

A tensão na península está a atingir níveis sem precedentes face aos repetidos testes de armas norte-coreanos, às manobras dos aliados e à possibilidade de, como parecem indicar as imagens de satélite, o regime de Kim Jong-un estar pronto para realizar o primeiro teste nuclear desde 2017.

No final de setembro, o regime de Kim Jong Un adotou uma nova doutrina proclamando a natureza "irreversível" do estatuto de potência nuclear da Coreia do Norte, tornando impossível negociações futuras sobre a sua desnuclearização e reservando-se o direito de realizar ataques preventivos.

Esta proclamação foi seguida, em setembro e outubro, por uma longa série de testes de mísseis, apresentados por Pyongyang como "simulações nucleares táticas".

Segundo disse à AFP o especialista na Coreia do Norte, Ahn Chan-il, “os recentes disparos são preliminares para um futuro teste nuclear”.

A Coreia do Norte quebrou sua moratória autoimposta de 2017 sobre testes de mísseis balísticos intercontinentais em março passado, mas desde então sofreu vários reveses.

Também em março, um Hwasong-17, considerado o mais poderoso ICBM desenvolvido por Pyongyang até hoje, aparentemente explodiu logo após o lançamento e uma bola de fogo foi vista no céu acima da capital coreana. E em maio passado, os militares sul-coreanos também relataram uma falha no lançamento do ICBM.