Olhares pelo Mundo

Serão os robôs uma solução para o apoio à população cada vez mais envelhecida?

O setor dos chamados robôs cuidadores está a entrar numa nova fase de desenvolvimento na China, impulsionado por avanços tecnológicos que prometem revolucionar o cuidado domiciliário e o apoio à população mais envelhecida.

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A China está a apostar fortemente no desenvolvimento de robôs cuidadores para responder a um dos maiores desafios do século XXI: o envelhecimento da população. Com uma sociedade cada vez mais envelhecida e uma crescente escassez de cuidadores humanos, o país asiático acelera a integração de inteligência artificial em lares de idosos.

A mais recente conferência "Nanny Robot", promovida pela China Media Group (CMG) em Pequim, revelou os avanços mais significativos neste campo e lançou um novo debate internacional: será possível e desejável que máquinas passem a ter um papel central no apoio a idosos e pessoas dependentes?

Robôs cuidadores: tecnologia ao serviço do cuidado domiciliário

Segundo um relatório apresentado na conferência pela China Center for Information Industry Development (CCID), o setor dos chamados robôs cuidadores ou de apoio domiciliário está a entrar numa nova fase de desenvolvimento, alimentado por avanços técnicos sem precedentes. Estes robôs são sistemas inteligentes autónomos, concebidos para realizar tarefas tradicionalmente atribuídas a cuidadores humanos, como assistência pessoal, monitorização de saúde, educação familiar e companhia a idosos.

De acordo com Zhang Li, diretor do CCID, os modelos mais recentes integram já perceção multissensorial, tomada de decisão autónoma, colaboração homem-máquina e até capacidade de autoevolução. A promessa é clara: maior autonomia para os utilizadores, menor carga para cuidadores humanos e custos progressivamente mais acessíveis. O relatório antecipa mesmo uma redução anual de 15% a 20% no preço destes equipamentos.

Na exposição de Pequim, os visitantes puderam assistir a demonstrações práticas destes robôs em ação: a preparar chá, servir refeições, jogar xadrez com idosos ou transportar encomendas. A CMG sublinhou o papel que estes dispositivos já desempenham em muitos lares chineses e a expectativa de que se tornem um pilar dos sistemas de apoio domiciliário do futuro.

Está prevista a realização de novas edições da conferência noutras cidades chinesas, como Qingdao, Shenzhen, Chengdu e Suzhou, com apresentações de casos de sucesso e protótipos em uso.

Uma resposta à crise demográfica?

A China tem mais de 280 milhões de pessoas com mais de 60 anos, número que deverá ultrapassar os 400 milhões até 2050. A escassez de profissionais de saúde e cuidadores informais levou o governo e o setor privado a procurar soluções alternativas. O investimento em robótica é visto como estratégico: não apenas para responder à procura interna, mas também para liderar o mercado global de tecnologias de cuidado e assistência.

Esta aposta está também a ser acompanhada de campanhas públicas, como a série documental “Hi Robot”, lançada pela CMG, que mostra os bastidores da indústria robótica e entrevistas com fundadores de startups, académicos da Academia Chinesa de Ciências e especialistas internacionais.

Robôs cuidadores: tecnologia ao serviço do cuidado domiciliário

Segundo um relatório apresentado na conferência pela China Center for Information Industry Development (CCID), o setor dos chamados robôs cuidadores ou robôs de apoio domiciliário está a entrar numa nova fase de desenvolvimento, alimentado por avanços técnicos sem precedentes.

Estes robôs são sistemas inteligentes autónomos, concebidos para realizar tarefas tradicionalmente atribuídas a cuidadores humanos, como assistência pessoal, monitorização de saúde e companhia a idosos.

"Com os constantes avanços tecnológicos, o desenvolvimento dos robôs cuidadores entrará numa nova fase, evoluindo com capacidades reforçadas como perceção multissensorial, tomada de decisão autónoma, colaboração entre humanos e robôs, e autoevolução", explica à agência Reuters Zhang Li, diretor do CCID.

Na exposição de Pequim, os visitantes puderam assistir a demonstrações práticas destes robôs em ação: a preparar chá, servir refeições, jogar xadrez com idosos ou transportar encomendas. A CMG sublinhou o papel que estes dispositivos já desempenham em muitos lares chineses e a expectativa de que se tornem um pilar dos sistemas de apoio domiciliário no futuro.

Riscos e dilemas éticos

Apesar do entusiasmo, a ascensão dos robôs cuidadores levanta questões éticas e sociais que estão a gerar debate a nível global.

Especialistas em ética tecnológica alertam para os perigos de desumanização dos cuidados, sobretudo quando os robôs substituem totalmente a presença humana junto de idosos, crianças ou pessoas vulneráveis. Embora estas máquinas possam realizar tarefas físicas ou rotineiras com eficiência, não possuem empatia, escuta ativa ou presença afetiva.

Num artigo publicado na revista Frontiers in Robotics and AI, em março deste ano,Lillian Hung e outros investigadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, sublinha que os robôs “não devem ser vistos como substitutos do cuidado humano, mas sim como ferramentas para complementar e reforçar a interação humana.”

A questão da privacidade é outra das grandes preocupações. Muitos destes robôs operam com câmaras, sensores de movimento e sistemas de reconhecimento facial ou vocal, recolhendo dados sensíveis em ambientes privados. Há o risco de vigilância intrusiva e partilha de informações pessoais com empresas ou entidades estatais, sem consentimento informado dos utilizadores.

Existe também o receio de que estas tecnologias fiquem reservadas aos mais privilegiados, o que pode acentuar as desigualdades sociais. A promessa de uma “robô ama” em cada lar será difícil de concretizar em zonas rurais ou para famílias com menos recursos.

E em Portugal?

Apesar da situação em Portugal ser bem distinta no que diz respeito à evolução tecnológica e não só, há projetos práticos em curso. A Universidade de Coimbra, por exemplo, desenvolveu um robô para estimulação cognitiva de idosos.

Em ambiente domiciliário, algumas universidades desenvolvem protótipos em parceria com autarquias e instituições sociais, embora a uma escala ainda muito reduzida.

À medida que a população portuguesa também envelhece - estima-se que mais de 30% terá mais de 65 anos em 2050 - soluções tecnológicas deste tipo podem ganhar terreno.

Contudo, a questão inicial mantém-se, tanto na China como em Portugal: como garantir que a inovação respeita a dignidade, a privacidade e as necessidades afetivas dos mais vulneráveis?