Uma crise migratória sem precedentes, que usou a Grécia como porta de entrada e cerco de milhares de refugiados, forçou, em 2016, a instalação de um largo punhado nos destroços do fausto olímpico.
Elliniko abrigava 2147 errantes escassos sete meses depois de ter chegado o primeiro contingente. As autoridades gregas foram forçadas a fechar o campo em junho de 2017.
A miséria humana que Elliniko alimentava, tornara-se demasiado ofuscante para passar despercebida.
Visitei Elliniko neste arranque de fevereiro. Corri atrás das memórias dos errantes.
A câmara de filmar deleita-se a captar sinais de vida, ruídos que criam movimento, ações que geram sequências, abraços, risos, choros, emoções… Nos campos de Elliniko, onde eu e o repórter de imagem José Silva entrámos clandestinos e estivemos até nos expulsarem, encontrámos tudo isso no meio do pesado silêncio.
As imagens que captámos, destinadas a um longo trabalho que estamos a fazer sobre refugiados, revelaram-se plenas de vida. Quem saiu, partiu à pressa, fugindo do caos. A cabeça de uma boneca, bolas desfeitas no meio de embalagens de comida, sapatos, dezenas de sapatos iguais aos milhares que sobreviveram às cremações de Hitler, roupas, livros, desenhos.
O desenho de uma cara cinzenta carregada de tristeza, revelou-se síntese mais do que perfeita da angústia dos dias de Elliniko.