Desde que lhes foi atribuída uma casa, estes dois casais de refugiados sírios nunca receberam uma visita da instituição que se propôs a acolhê-los. Estas são as histórias de quatro pessoas que foram votadas ao mais absoluto esquecimento.
Lara e Khaled Alhalabi, Siyar Davud e Zozan “Hevien” Rashid chegaram a Portugal a 4 de Maio de 2017. Na Grécia, quando tiveram de se inscrever no programa de recolocação da União Europeia, prometeram-lhes total apoio: casa, emprego, aulas de português. A realidade, no entanto, viria a ser bem diferente.
No aeroporto foram recebidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e pelo Centro Português para os Refugiados (CPR) com elevadas medidas de segurança. Entraram numa carrinha e foram levados para a Residencial Beira, em Sete Rios. Desnorteados, ficaram naquele quarto durante 20 dias sem instruções para o que fazer de seguida. Dos números de telefone para onde poderiam ligar nunca vieram soluções.
Três semanas volvidas, fizeram a única coisa ao seu alcance: um protesto à porta do SEF, a única instituição cuja sede sabiam onde era. “Onde está a humanidade que nos prometeram?”, lia-se nos cartazes. Quando começaram a captar a atenção dos jornalistas e do Alto Comissariado para as Migrações, o CPR conseguiu finalmente desbloquear dois apartamentos; um no Cacém, para Lara e Khaled, outro em Algueirão, para Zozan e Siyar.
A esperança de que um novo lar poderia representar finalmente o início de um processo de integração rapidamente se desvaneceu. Estas duas famílias continuaram entregues a si mesmas durante os dois anos que se seguiram. Entretanto, os programas de integração de 18 meses acabaram em Novembro de 2018.
Resta-lhes agora seguirem caminho, sozinhos, neste país que ainda lhes é tão estranho.