A crise migratória da Europa começou a atingir dimensões críticas a partir de 2015. Em Portugal, a PAR, Plataforma de Apoio aos Refugiados, surge para ajudar no processo de integração dos que fugiam do terror. As condições foram criadas e a segurança foi garantida aos quase 1.700 que chegaram a território nacional.
Várias bolsas para estudantes refugiados foram anunciadas, alguns municípios do País mostraram-se dispostos a integrar refugiados no seu mercado local, maioritariamente agrícola, e nasceram projetos de inclusão social como é o caso do restaurante Mezze, que só emprega refugiados.
No entanto, continuam a existir problemas na integração destas pessoas. Para além de metade dos que chegaram terem saído do País, entraves como a ausência de diálogo entre as organizações envolvidas e o Governo, os vários atrasos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e as dificuldades na realização de aulas de português, dificultam a adaptação dos refugiados à nossa cultura.
Olhando para os sucessos e falhas, quais continuam a ser os desafios, objetivos e ambições da integração de refugiados em Portugal?
Guerras, fome, violações dos direitos humanos levaram centenas de milhares de pessoas a tentar entrar na Europa e a solicitar asilo. Durante a crise, o Governo português disse que Portugal estava pronto para receber cerca de dez mil refugiados. Pronto e com vontade, de forma também a combater o défice demográfico.
De 2015 a 2018, chegaram 1.674 refugiados a Portugal. Um pouco mais de um terço foi apoiado pela PAR, coordenada pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados. Trata-se de uma rede colaborativa de mais de 350 organizações da sociedade civil portuguesa para o apoio aos refugiados e à sua integração.
No entanto, das que chegaram apenas metade é que permaneceu em território nacional. E das que permanecem aqui, nem todas têm o estatuto de residência. O que é o mesmo que dizer que não podem fazer coisas como trabalhar e ir ao hospital.
Mas demos a voz a quem percebe do assunto. Carlota Muralha, responsável pela comunicação da PAR, entende a saída dos refugiados do nosso país como algo natural. Isto porque não podemos comparar a rede nacional criada com a de países como a Alemanha e a França, que estão muito melhor preparados e que por isso já possuem um núcleo bastante considerável de imigrantes.
No entanto, essa não é a única explicação. Carlota Muralha aponta para o défice de diálogo entre as várias instituições envolvidas, apesar de notar já alguma evolução.
Alaa Alhariri é refugiada síria e chegou a Portugal ao abrigo da Plataforma de Assistência a Estudantes sírios de Jorge Sampaio. Alaa acabou por ficar por cá e é hoje uma cara importante na hora de receber os imigrantes.
Portugal é um bom destino? “Não existem bons ou maus destinos, as pessoas querem é segurança”, clarificou Alaa. Acabada de tirar mestrado em Arquitetura, a jovem síria, de 26 anos, sente-se bem em Portugal e admira a vontade das pessoas em ajudar os que vêm das cinzas.
O problema é que existem alguns mecanismos que abafam essa enorme vontade. Para Alaa, a falta de aulas de português é um entrave enorme, para além dos “papéis” que tardam em ser despachados. Papéis esses que oficializam o estatuto de residência a quem tanto precisa dele. A responsabilidade é do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Alaa não quis ser apenas uma cara familiar aos que chegavam.
A vontade em combater os aspetos menos bons foi crescendo e culminou num projeto de inclusão social onde os sabores do Médio Oriente são a especialidade da casa.
O restaurante Mezze, fundado por Francisca Gorjão e co-fundado por Alaa, só emprega refugiados e junta o esforço em dar a conhecer a cultura oriental a uma ajuda importante aos seus colaboradores.
Rafat é um dos que lá trabalha, mas não é um qualquer. De empregado de mesa a gerente do restaurante em apenas dois anos, Rafat fugiu da guerra com 15 anos e trabalha no que diz ser o maior projeto da sua vida.
É sírio e passou três anos no Egito antes de vir para Portugal com a família que restava: Rafat perdeu o pai na crueldade da guerra.
Rafat faz parte dos 40% integrados pela PAR que já não precisa de ajuda económica e é um exemplo de como a integração em território nacional pode correr bem, apesar de reconhecer que tem amigos que não tiveram a mesma sorte.