CAN 2010

Cerveja serviu para esquecer derrota de Angola frente ao Gana no CAN 2010

As caixas térmicas com cerveja que centenas de angolanos levaram nos carros para o estádio 11 de Novembro, em Luanda, evidenciavam que poucos duvidavam da passagem de Angola às meias-finas da Taça de África das Nações (CAN2010).

Mas foi o contrário o que aconteceu domingo à noite: os "Black Stars" do Gana derrotaram os "Palancas Negras" com um golo solitário e Angola acabava a sua participação na CAN.



Se a cerveja estava comprada e a noite estava quente, pois o melhor, pensaram centenas de adeptos angolanos, foi "beber para esquecer" , já que para festejar não deu.



Nas imediações do estádio, que viu os seus 50 mil lugares repletos para o jogo em que Angola poderia chegar pela primeira vez a umas meias-finais de um CAN, pequenos grupos de jovens começaram a juntar-se em torno de caixas térmicas com a cerveja que estava destinada à festa e que acabou a servir para amortecer a queda dos "Palancas".



"Também... os outros é tudo Leões, Águias, Raposas, é só bicharada carnívora. Nós somos... Palancas, a comer erva" , lamentava Carlos Alberto, com bom humor, "apesar de tudo" , ironizando com a simbologia animal que denomina a maioria das selecções africanas.



Já passava mais de uma hora do fim do jogo e ainda as filas de trânsito ligavam o estádio 11 de Novembro à auto-estrada entre Viana e Benfica, com filas intermináveis de luzes dos carros a moldar o horizonte.



"Temos a cerveja, temos as luzes... e a festa da despedida dos Palancas" , resignava-se Carlos Alberto perante a risada dos amigos, uma dezena de rapazes e raparigas vindos de vários pontos de Luanda para apoiar a selecção angolana.



À medida que os carros diminuíam na estrada e a cerveja chegava ao fim na caixa térmica, Carlos Alberto e os amigos preparavam-se também para deixar o local, um gigantesco parque de estacionamento nas imediações do 11 de Novembro, onde se viam grupos semelhantes a consumir a cerveja que estava destinada a outro fim.



É que nada em Luanda, com a euforia da passagem aos quartos-de-final, preparou os adeptos angolanos para uma derrota frente aos ganeses, embora os adeptos, "lá no fundo" , até soubessem que "eles eram favoritos" , como admitiu Carlos Alberto.



Quem passasse no sábado pelo Museu Nacional de História Natural de Luanda poderia ver que os três exemplares de Palancas Negras Gigantes embalsamados ali expostos estavam equipados a rigor com as cores de Angola, com camisolas, cachecóis, bandeiras e bonés.



Ao longo dos cerca de 30 quilómetros que ligam o estádio 11 de Novembro a Luanda, dezenas de barracas improvisadas de comes e bebes reproduziam aquilo que o grupo de Carlos Alberto fazia nas imediações do estádio: já que a cerveja estava comprada...



Já hoje as palancas do museu devem ser desequipadas e a cidade de Luanda - depois de uma noite de chuva intensa - regressa ao normal do seu dia-a-dia das filas de trânsito sob um céu cinzento carregado, enquanto a imprensa em uníssono reproduz aquilo que o treinador Manuel José disse no fim dos 90 minutos: "Não tivemos a sorte do jogo" .



Lusa