O texto - assinado pelo sociólogo Mathias de Alencastro - faz um apanhado da atuação política de Mário Soares desde a década de 1950, frisando que quando regressou do exílio para Portugal, em 1974, tornou-se um líder pró-europeu em oposição a Álvaro Cunhal que era ligado a Moscovo.
"Deslumbrado com o resto do mundo depois de décadas de censura e de isolamento, o Portugal pós-fascista e pós-colonial encontrava-se numa encruzilhada entre dois caminhos: a inserção no projeto europeu e a tentação pró-soviética", aponta o texto.
A análise continua dizendo que "depois de três anos intensos, marcados pelo verão quente de 1975 quando um golpe de inspiração comunista quase se concretizou, (Mário) Soares triunfou, e Portugal deu início a uma das fases mais prósperas da sua história: a integração em passo acelerado na União Europeia".
O texto lembra que apesar deste trunfo político, Mário Soares era considerado uma figura controversa em Portugal já que parte da população o responsabilizou pela descolonização.
" Os "retornados" - milhares de portugueses forçados a regressar depois de nascerem ou passarem grande parte da vida nas colónias - formam ainda hoje um grupo visceralmente anti-Soarista", indica.
O jornal brasileiro também menciona a tentativa fracassada de Mário Soares voltar à Presidência em 2006, aos 81 anos, facto que o teria impedido de sair da política pela porta grande.
"A sua campanha, dirigida aos jovens eleitores, foi ridicularizada, e o seu desempenho eleitoral foi pífio, com apenas 14% dos votos. Mas esse episódio embaraçoso não foi suficiente para manchar seu legado", lembra.
O texto termina com elogios a Portugal, um dos únicos países europeus onde o neofascismo não tem prosperado e onde o sucessor de Mário Soares no Partido Socialista, António Costa, selou uma aliança histórica com os comunistas, encerrando o conflito aberto depois da Revolução dos Cravos.
"Um panorama animador para um país que, em 1974, caiu nas mãos de (Mário) Soares em estado de calamidade militar, social e política", conclui.
Mário Soares morreu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.
O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.
O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 13:00 de segunda-feira, e o funeral de Estado realiza-se a partir das 15:30 de terça-feira, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
Lusa