Quadros de Miró

Leilão da coleção Miró previsto para hoje, aguarda-se decisão sobre providência cautelar

As 85 obras de Miró que se encontram na posse  do Estado português desde a nacionalização do Banco Português de Negócios  (BPN), seu anterior proprietário, vão hoje a leilão na Christie's, em Londres,  depois da polémica gerada em Portugal. 

(Arquivo Reuters)
© Suzanne Plunkett / Reuters

Para hoje, está também prevista uma decisão do Tribunal Administrativo  do Círculo de Lisboa, sobre uma providência cautelar destinada à suspensão  da venda do acervo das obras, apresentada pelo Ministério Público, na segunda-feira,  na sequência de um pedido do PS. 

A coleção Joan Miró, constituída por pinturas e desenhos, está avaliada  em cerca de 36 milhões de euros, pela leiloeira, e vai à praça nas sessões  de hoje e de quarta-feira. Segundo a Christie's, "esta é uma das mais extensas  e impressionantes ofertas de trabalhos do artista que alguma vez foi a leilão".

A venda das obras foi contestada em Portugal por um movimento cívico  liderado pela Casa da Liberdade Mário Cesariny, e pelo Coletivo Multimédia  Perve, cuja petição alcançou 8.800 assinaturas na Internet, tendo sido aprovada  por unanimidade na passada quinta-feira, na Comissão Parlamentar de Educação,  Ciência e Cultura. 

Ainda no parlamento, os partidos da oposição apresentaram propostas  de resolução para travar a venda, tendo sido chumbadas pela maioria que  apoia o Governo. O PS, por seu turno, requereu à Procuradoria-Geral da República  (PGR) que o Ministério Público desencadeasse "medidas cautelares" que não  permitissem a venda dos quadros de Joan Miró em Londres, depois de ter esgotado  todas as iniciativas parlamentares no sentido de suspender essa venda. 

Na segunda-feira, a PGR pediu ao Tribunal Administrativo do Círculo  de Lisboa o decretamento provisório da providência cautelar destinada à  suspensão da venda do acervo das obras de Miró, tendo-se o tribunal reunido  nessa noite, sendo esperada uma decisão hoje de manhã. 

Na noite de segunda-feira, o TACL ouviu várias partes ligadas ao processo,  designadamente um representante do Ministério Público. Estava também prevista  a audição de alguns dos deputados que subscreveram o requerimento à PGR,  entre os quais Gabriela Canavilhas e Inês de Medeiros, mas esta última disse  à Lusa que não chegou a depor por falta de autorização atempada do parlamento.

A Christie's, contactada pela Lusa, disse não ter qualquer comentário  a fazer, até haver uma decisão. 

Os procedimentos normais dos leilões determinam que, se uma obra não  for vendida, cabe ao vendedor decidir o que fazer com ela: pode ser devolvida  ao proprietário ou ser levada de novo a leilão numa data posterior.  

Na segunda-feira, em comunicado, a Associação Portuguesa de Museologia  criticou a saída dos quadros do país, tendo afirmado que "a coleção Miró  constitui um acervo artístico gerador de riqueza em qualquer parte do mundo,  em especial num país turístico como é Portugal, que, através de uma política  de comunicação/atuação semelhante a outras recentes exposições", e acrescentou  que "poderia ajudar (não a resolver) a remover a imagem da profunda trapalhada  ligada ao caso BPN". 

Fonte ligada ao processo BPN disse à Lusa que os quadros do Miró foram  entregues à Parvalorem, a empresa estatal constituída para a recuperação  de créditos do banco após a sua nacionalização, como "dação em pagamento"  pelas dívidas que a Galilei (ex-Sociedade Lusa de Negócios, detentora do  banco) tinha para com a instituição que foi dirigida por Oliveira Costa.

Lusa