Quadros de Miró

Contrato de venda dos Miró não passou pelo Tribunal de Contas porque não implica despesa

O presidente da Parvalorem, Francisco Nogueira  Leite, afirmou hoje que a venda da coleção Miró visa criar receita para  o Estado e não despesa, razão pela qual o contrato com a leiloeira Christie's  não foi enviado ao Tribunal de Contas (TC). 

(Reuters/Arquivo)
© Suzanne Plunkett / Reuters

Os jornais Público e Diário Económico noticiam hoje que o Tribunal de  Contas desconhece o contrato celebrado entre a Parvalorem e a Christie's para a realização do leilão das 85 obras de Joan Miró e que está agora a  analisar e a acompanhar esta matéria. 

Em causa está a dúvida sobre se o contrato devia ter sido ou não sujeito  a fiscalização prévia e o TC deverá analisar se estão cumpridos os requisitos  previstos na lei. 

Tanto a Parvalorem como a Christie's têm-se negado a divulgar os termos  do contrato da venda das obras, alegando uma cláusula de confidencialidade.

A Parvalorem é uma sociedade anónima de capitais públicos, criada em  2010 pelo Estado para gerir os ativos e recuperar créditos do ex-Banco Português  de Negócios (BPN), nacionalizado em 2008, nomeadamente através da venda  da coleção Miró. 

Contactado pela agência Lusa, o presidente da empresa sustenta que a  questão não se colocou porque o contrato "não representa contrair despesa,  mas criar receita" para o Estado, com a venda. 

A posição do presidente da empresa baseia-se na consulta feita aos advogados  da Parvalorem, segundo a qual "quer a lei da contratação pública quer a  lei do Tribunal de Contas têm em mente a compra de bens (realização de despesa)  e não a venda de bens (realização de receita)". 

Apontam ainda a alínea b do artigo 46 da Lei Orgânica do Tribunal de  Contas, segundo a qual "estão sujeitos a visto prévio os contratos de obras  públicas, aquisição de bens e serviços, bem como outras aquisições patrimoniais  que impliquem despesa", o que, segundo a empresa, não se aplica no caso  da venda da coleção Miró. 

A coleção, que ainda não foi exposta em Portugal, esteve em exibição  em Londres antes do leilão que estava marcado para o início de fevereiro,  mas que depois depois cancelado pela Christie's, que não considerou a venda  legalmente segura, depois de o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa  ter apontado ilegalidades na saída das peças de Portugal. 

O principal responsável pela petição que defende a manutenção das obras  em Portugal, tinha pedido uma audiência ao primeiro-ministro, Pedro Passos  Coelho, sobre esta matéria, depois de lhe ter sido negado o pedido de exibição  das obras no país. 

Carlos Cabral Nunes disse à Lusa que recebeu uma resposta do gabinete  do primeiro-ministro indicando que o pedido foi reencaminhado para o secretário  de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. 

"Situando-se a matéria no âmbito dessa tutela, solicita-se que seja  promovida a sua análise, dando conhecimento ao interessado do andamento  que ao assunto vier a ser dado", diz a resposta oficial. 

Cabral Nunes, que tinha feito uma proposta à Parvalorem assegurando  um espaço museológico para a exibição da coleção, lamentou a resposta negativa  da Christie's, que alegou necessitar das obras até ao final de abril para  poder exibi-las em várias cidades do mundo. 

A coleção, com um valor base de licitação de 36 milhões de euros, regressou  ao país no final de fevereiro e, segundo a Parvalorem, encontra-se nos cofres-fortes  da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa.  

 

Lusa