Crise na Ucrânia

Empresa russa Gazprom cancela desconto no gás vendido à Ucrânia

O presidente do gigante russo Gazprom, Alexei Miller, disse hoje que a partir de abril deixará de vender gás à Ucrânia a preços reduzidos.

2006 - O presidente russo Vladimir Putin dá à Gazprom o monopólio da exportação de gás do país.
© Alexander Demianchuk / Reuters

"Nestas condições, quando a Ucrânia não cumpre as suas obrigações, não  cumpre os acordos que se alcançaram com a concessão de um desconto como  parte de um contrato, a Gazprom decidiu não continuar a conceder este desconto  a partir do próximo mês", disse Miller, citado por agências de notícias  russas. 

O responsável disse ainda que a empresa vai sugerir um crédito a Kiev  de dois a três mil milhões de dólares (entre 1,45 e 2,18 mil milhões de  euros) para que possa cobrir a sua dívida do ano passado e pagar os fornecimentos  atuais. 

O ministro da Energia da Rússia já tinha dito, de acordo com a agência  de notícias russa, que não via razão para renovar o contrato entre a Gazprom  e a Ucrânia que concedia uma redução no preço que o país paga pela energia  vinda da Rússia - um acordo negociado em 2013 e que prevê uma redução no  preço até março deste ano. 

Por outro lado, a agência de informação financeira Bloomberg noticiou  na segunda-feira, citando o porta-voz da Gazprom, que a empresa poderia  suspender o fornecimento de energia à Ucrânia caso esta não pague os 1,5  mil milhões de dólares em dívida. 

A questão da energia é mais uma das peças em jogo na tensão que tem  escalado nos últimos dias e que levou à ocupação da península ucraniana  da Crimeia por tropas russas, depois de o Presidente, Vladimir Putin, ter  recebido autorização do Parlamento para o efeito, no fim de semana. 

O Governo interino da Ucrânia dificilmente conseguirá honrar os compromissos  de pagamento do gás a Moscovo, um fornecedor que é responsável por mais  de metade da energia consumida no país, até porque está a tentar negociar  um empréstimo de 15 mil milhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.

A ameaça da Gazprom complica uma situação financeira já de si difícil  para o novo governo ucraniano, que tenta evitar que o país caia na bancarrota,  e é mais um exemplo da maneira com o Presidente russo usa a política energética  para convencer o seu vizinho ocidental, tendo já cortado duas vezes o fornecimento  devido a disputas relacionadas com o pagamento. 

Como a Ucrânia tem uma rede de 'pipelines' ainda do tempo soviético  que leva mais de metade das exportações russas de gás para a União Europeia,  qualquer perturbação na oferta põe a segurança energética da região em risco,  escrevia a Bloomberg na segunda-feira. 

O gás "é uma típica manobra da Rússia para pressionar a Ucrânia", considera  um analista ouvido pela agência financeira, que acrescenta que "na última  década o Kremlin usou o gás como arma de pressão política contra as antigas  repúblicas soviéticas".