O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, disse hoje que, até ao momento, "não há nenhum acordo com os Estados Unidos" sobre a Ucrânia, depois de uma reunião com o homólogo norte-americano, John Kerry, em Roma.
"Neste momento, não podemos anunciar à comunidade internacional que chegámos a um acordo", disse Lavrov, citado pelas agências russas.
"Vamos continuar a estudar as ideias que John Kerry me transmitiu hoje sobre medidas concretas a tomar", acrescentou, precisando que vai transmitir o conteúdo da conversa ao Presidente russo, Vladimir Putin, quando regressar a Moscovo.
"Queremos clarificar com mais profundidade o que os nossos parceiros querem dizer quando sugerem algum tipo de mecanismo internacional, que conteúdo teria", disse.
Lavrov repetiu que "o mais importante" para a Rússia é "respeitar os acordos de 21 de fevereiro", assinados entre o Presidente ucraniano Viktor Ianukovich e os três principais partidos da oposição para pôr fim à crise na Ucrânia.
Esses acordos, mediados pela Alemanha, França e Polónia e um representante da Rússia, preveem a antecipação das eleições presidenciais, a formação de um Governo de união nacional e uma reforma constitucional.
O acordo foi subscrito pelos ministros europeus, mas não pelo representante russo, o que Moscovo justificou afirmando que o seu representante entrou no processo "a meio" das negociações, mas assegurando que não se opunha ao pacto.
No dia seguinte à assinatura dos acordos, Viktor Ianukovich saiu de Kiev e foi destituído pelo parlamento, onde o seu Partido das Regiões, outrora maioritário, se tornou minoritário com a demissão de cerca de 40 deputados.
O Governo formado em Kiev após o acordo de 21 de fevereiro não é, no entanto, de união nacional, sendo constituído por representantes dos partidos da oposição e do movimento de contestação, sem a participação de apoiantes de Ianukovich.
Lavrov disse ainda que, para a Rússia, "o segundo aspeto importante é que todo o processo (...) deve obrigatoriamente sustentar-se no acordo, sem ambiguidade, de todas as regiões ucranianas".
O ministro russo falava horas depois de o parlamento regional da república autónoma da Crimeia, dominado por forças pró-russas, ter aprovado um pedido a Vladimir Putin para uma união do território à Rússia.
As autoridades locais da Crimeia, no sul da Ucrânia, não reconhecem o novo Governo de Kiev e defendem o regresso ao poder de Viktor Ianukovich, atualmente refugiado na Rússia.
Serguei Lavrov e John Kerry estão em Roma para uma conferência internacional sobre a Líbia, reuniram-se hoje pela terceira vez em dois dias para discutir a crise na Ucrânia.
Lavrov criticou as restrições de vistos a russos e ucranianos considerados responsáveis pela desestabilização da Ucrânia anunciadas hoje pelos Estados Unidos, afirmando que se trata de "uma ameaça".
O ministro advertiu para o "constante aumento da pressão", embora tenha dito que Kerry lhe assegurou que as restrições de vistos ainda não foram aplicadas.
EUA impõem restrições de vistos e congelamento de bens a russos e ucranianos
"O Departamento de Estado aprovou hoje restrições de vistos para um certo número de responsáveis e indivíduos, refletindo uma decisão política que visa a recusa de vistos a responsáveis ou cúmplices pela ameaça à soberania e à integridade territorial da Ucrânia", divulgou a Casa Branca, num comunicado.
A administração norte-americana não especificou o número de pessoas abrangidas por estas restrições, nem as respetivas identidades.
O Presidente norte-americano, Barack Obama, tomou esta decisão "em resposta à violação contínua da Rússia da soberania e da integridade territorial da Ucrânia", sublinhou a Casa Branca.
O chefe de Estado norte-americano também assinou um decreto que autoriza o congelamento de bens "de indivíduos ou entidades, cujas ações minaram o processo democrático e as instituições na Ucrânia, ameaçando a paz, segurança e a estabilidade", prosseguiu a nota informativa.
Esta ordem executiva, de acordo com a administração norte-americana, "é uma ferramenta flexível que vai permitir punir aqueles que estão mais diretamente envolvidos na desestabilização da Ucrânia, incluindo na intervenção militar na Crimeia, e não exclui outros passos se a situação se deteriorar".
O Departamento de Defesa norte-americano (Pentágono) anunciou na segunda-feira a suspensão de "todas as ligações militares" entre Washington e Moscovo, após a intervenção russa na república autónoma ucraniana da Crimeia (sul da Ucrânia).
A tensão na região acentuou-se nos últimos dias com a decisão do Senado russo de autorizar o envio de tropas para a república autónoma da Crimeia, no sul da Ucrânia, território de maioria russófona e estratégico para Moscovo, que ali tem a base da sua frota do Mar Negro.
A decisão foi tomada em nome da proteção dos cidadãos e soldados russos, depois de o governo autónomo ter rejeitado o novo Governo da Ucrânia, formado pelos três principais partidos da oposição ao Presidente ucraniano, Viktor Ianukovich, atualmente exilado na Rússia.
Lusa