Cultura

Adiamento de novo Acordo Ortográfico no Brasil divide opiniões de professores e alunos

O adiamento da implantação obrigatória do  Novo Acordo Ortográfico no Brasil para 2016, que está a ser analisado pelo  Governo brasileiro, divide opiniões de professores de português, coordenadores  de escolas e alunos.

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As novas regras, que podem ser usadas de forma facultativa desde 2008  e já são aplicadas em livros didáticos e em várias escolas, tornar-se-iam  obrigatórias a partir de janeiro de 2013, segundo o texto original. 

Senadores da Comissão de Educação acolhem as críticas feitas ao texto  por linguistas e acordaram com o Governo a redação de um decreto presidencial  que adie a obrigatoriedade das novas regras para janeiro de 2016, um ano  após a sua implementação definitiva em Portugal. 

No início do mês, o ministro brasileiro da Educação, Aloizio Mercadante,  afirmou à Lusa que o adiamento tinha sido recomendado pelo Ministério das  Relações Exteriores e estava a ser estudado pela sua tutela. O Governo não  voltou a se manifestar sobre o assunto.  

Entre educadores de escolas particulares de São Paulo não há consenso  sobre o adiamento da implantação do acordo.  

Susana Regina Húngaro, coordenadora de português do Colégio Bandeirantes,  um dos mais tradicionais de São Paulo, afirma que o adiamento não é necessário  para os estudantes, que já estão "completamente adaptados".  

Segundo a coordenadora, os alunos do ensino secundário tiveram mais  dificuldades de adaptação, pois já possuíam as regras antigas mais interiorizadas.  Mas agora a todos já é exigido que usem o novo acordo. No Brasil, as principais  mudanças manifestam-se no uso do hífen e de acentos.  

Professora de educação fundamental para alunos entre 7 e 14 anos há  mais de duas décadas, Deise de Oliveira Guiao, também diz que o adiamento  não é necessário, e critica a adoção de outras novas regras num futuro próximo.

"O Novo Acordo deixou algumas coisas mais fáceis para os alunos. Se  houver uma nova mudança, eles vão se confundir", disse.  

Ana Valeria Borotletto, também professora de educação fundamental, há  18 anos, acha que ainda não se deu tempo para as novas regras penetrarem  na sociedade e que, apesar de as crianças já seguirem o acordo, os pais  precisam de mais tempo para se adaptar.  

Alguns adultos, segundo a docente, corrigem mal as lições dadas aos  filhos, reforçando as regras antigas, e foi necessária a convocação de uma  reunião para pedir que eles esclarecessem dúvidas com os professores. 

As opiniões dos alunos também estão divididas. Estudante do primeiro  ano do secundário, Gustavo Hipólito, 15 anos, comenta que teve mais dificuldade  em se adaptar à mudança dos acentos, e que ainda tem dúvidas na colocação  correta do hífen.  

"Se tivesse mais um ano sem ser obrigatório, daria tempo de se acostumar  melhor", diz à Lusa.  

Já Adriana Martins Mariano, 15 anos, também do primeiro ano da educação  secundária, fala que as novas regras "complicaram" o uso da língua, mas  defende que a mudança se torne definitiva rapidamente, para acabar com as  "confusões".    

Lusa