Cultura

Manoel de Oliveira diz que tem tudo pronto para rodar um novo filme , mas falta financiamento

A um mês de completar 105 anos, o realizador  Manoel de Oliveira afirmou à revista francesa Cahiers du Cinéma que está  pronto para rodar um novo filme, "O Velho do Restelo", mas falta-lhe financiamento.

(Reuters/ Arquivo)
© Jean-Paul Pelissier / Reuters

"Fazer este filme é como ganhar uma batalha: É difícil. A conjuntura  económica trava e fragiliza a montagem financeira do filme", afirmou o realizador  português. 

Na entrevista, feita pelo investigador António Preto e publicada na  edição de novembro da revista, Manoel de Oliveira deixou ainda um lamento:  "Eu penso que no país há uma grande indiferença pelo que já realizei. Tanto  faz que o meu cinema exista ou não exista". 

Manoel de Oliveira está há mais de um ano a trabalhar no argumento de  "O velho do Restelo", a partir de textos de Camões, Teixeira de Pascoaes,  Camilo Castelo Branco ou Cervantes, que se debruçam de alguma forma sobre  esta personagem. 

O filme será uma média metragem, com atores portugueses, e com um orçamento  de 350.000 euros que o produtor Luís Urbano conta conseguir em breve, para  arrancar com a rodagem no começo de 2014, como explicou à agência Lusa.

A propósito da personagem pessimista e derrotista do "Velho do Restelo",  Manoel de Oliveira opina, na entrevista, sobre a atualidade - "vivemos um  presente suspenso da realidade" -, sobre a crise económica - "um mal que  se abateu sobre nós" - sobre a derrota e a "esperança da vitória". 

O realizador explicou ainda que pretende fazer "O Velho do Restelo",  porque quer refletir novamente sobre a História de Portugal, em particular  sobre "a Invencível Armada e o presente". 

Fazendo jus à vitalidade e à capacidade de trabalho, que desafiam os  seus 104 anos, Manoel de Oliveira revelou ainda que já concluiu o argumento  para um outro filme centrado nas mulheres que fazem as vindimas, ainda que  esta prática tenha já sido retratada anteriormente pelo autor. 

"Este projeto, sobre as vindimas, é o resultado de uma declaração feita  por uma atriz italiana. Ela disse que o próximo filme que eu faria seria  sobre as vindimas. Não contava fazer esse filme, mas tomei a decisão de  responder à sua vontade. 

Quanto à ideia de adaptar "A missa do Diabo", do autor brasileiro Machado  de Assis, o realizador reconheceu algumas dificuldades, em particular porque  o filme teria que ser rodado no Brasil. 

Manoel de Oliveira, nascido no Porto em 1908, completará 105 anos no  dia 11 de dezembro. 

O realizador deverá marcar presença hoje numa homenagem que lhe será  prestada pelo Instituto Politécnico do Porto e pela Escola Superior de Música,  Artes e Espectáculo na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. 

Na sessão estarão presentes, entre outros, o escritor Mário Cláudio,  que fará uma conferência, o presidente da câmara municipal do Porto, Rui  Moreira, o embaixador de França em Portugal, Jean-François Blarel, e a atriz  Fernanda Matos, protagonista do filme "Aniki-Bóbó". 

Lusa