Vhils transformou três fachadas do hospital pediátrico Necker, no 15° bairro de Paris, em murais de onde sobressaem rostos de crianças cravados diretamente na parede, estando as obras junto a uma torre decorada, em 1987, pelo norte-americano Keith Haring, um dos pioneiros da 'Street Art'.
Partindo de uma nova série de desenhos de crianças que fez e tratando-se de um hospital "com carga pesada", o objetivo foi dar ao espaço "uma nova vida" e conseguir, durante "um ou dois segundos", tirar as pessoas do contexto em que estão, disse o artista à Lusa.
Além de "pegar num espaço que estava completamente deprimido" e fazer aparecer um rosto, Vhils introduziu um elemento novo, a árvore, para "olhar para o futuro de outra maneira".
"Tens essa relação direta de crescimento e daquilo que te faz ser o que tu és, que vem de trás, mas que também te aponta para o futuro", descreveu.
O trabalho de Vhils vai estar em destaque na "Grande Caminhada Artística", um percurso de obras, performances e instalações que pretende fazer de Paris um museu a céu aberto durante uma noite e que foi imaginado pelo franco-português José Manuel Gonçalves, diretor artístico da Noite Branca.
"Este conceito é uma maneira de descobrir Paris um pouco diferente do que a gente conhece. Também quis levar a Noite Branca para um espaço público e não fechado, como uma galeria", explicou à Lusa José-Manuel Gonçalves, lusodescendente também diretor do espaço cultural Centquatre-Paris.
A pontuar a "Grande Caminhada Artística" estarão as obras do percurso "OFF", entre as quais se destaca "Girândola de Luz", na Praça do Châtelet, da franco-portuguesa Catherine da Silva, uma instalação com a forma de um cravo no âmbito de um projeto que acontece, simultaneamente, no Monte do Sobral, no Alentejo e no Largo do Carmo, em Lisboa.
"Em Lisboa, encontramos os oito cravos que representam as oito reuniões determinantes realizadas pelos capitães de Abril para chegar à revolução", afirmou.
"Por ocasião dos 40 anos da Revolução dos Cravos, quis que o evento saísse das fronteiras e a etapa de Paris pretende transformar o cravo num símbolo universal de liberdade", descreveu a artista à Lusa.
A instalação do cravo metálico é efémera, mas Catherine da Silva admite que está a estudar a possibilidade de fazer uma obra permanente num espaço em Paris e, mais tarde, em outras capitais europeias.
Também efémera é a proposta que vai ser apresentada na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada "Trois Fois Rien" e comissariada pelo franco-português António Contador.
Nesta que é a terceira parte do projeto que já tinha passado pela Gulbenkian - sob forma de uma exposição em 2012 e de uma performance no ano passado - António Contador escolheu uma instalação e dois vídeos da artista franco-alemã Charlotte Seidel.
"A Charlotte Seidel trabalha a partir de uma observação fina, de coisas que talvez passem despercebidas, e ela transcreve essa observação por meio de vídeos ou instalações que são também presenças ténues. Os vídeos e a instalação com focos de luz apontam para uma presença frágil e esse espírito corresponde àquele que eu queria desenvolver com a Fundação Gulbenkian para estes três momentos", explicou o também artista à Lusa.
Lusa