Cultura

Galerista que lançou petição preferia que coleção Miró circulasse no país

O galerista Carlos Cabral Nunes, que lançou em 2014 uma petição para a manutenção da coleção Joan Miró em Portugal, concorda que a coleção Miró fique no Porto, mas preferia que circulasse por todo o país.

Contactado pela agência Lusa na sequência do anúncio do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, Carlos Cabral Nunes mostrou-se satisfeito por o Governo ter decidido que a coleção Miró fique em Portugal e seja exibida ao público.

"É meritório que Serralves mostre as obras, mas vai deixar algumas de fora, o que não é bom, porque seria importante que os portugueses conhecessem a sua totalidade", defendeu o galerista, acrescentando que também é bom ser acolhida por um espaço no Porto, mas defende a itinerância como "essencial".

A circulação, sustenta, "deveria ser acompanhada por um debate público para que se perceba qual é o sentimento da sociedade sobre a coleção Miró, se as pessoas acham que deve ficar toda em Portugal ou não".

Para Carlos Cabral Nunes, o facto de o Museu de Serralves estar a preparar a exposição da maioria das obras - mas não todas - e o facto do ministro da Cultura ter afirmado que o Governo pondera ainda se ficará com parte delas ou a totalidade, "é uma opção negativa".

"O conjunto das obras, cuja importância já está reconhecida, deveria ficar em Portugal, circular pelo país e também pelos territórios de língua portuguesa, sobretudo o Brasil, onde as exposições da obra gráfica de Miró têm feito um enorme sucesso", sustentou.

O galerista receia que um próximo Governo tenha uma opinião diferente e que decida alienar a coleção, daí que, na sua opinião, "o consenso nacional sobre as 85 obras de Miró seja importante".

Depois de ter sido lançada, em janeiro de 2014, a petição pública em defesa da manutenção em Portugal das obras de Joan Miró (1893-1983) na posse do Estado português -- através das empresas Parups e Parvalorem - desde a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), em 2008, atingiu as 10.500 assinaturas, e chegou a ser debatida no parlamento.

O leilão das obras em Londres, pela Chritie´s, foi adiado por duas vezes "por razões comerciais e judiciais" devido aos processos interpostos pelo Ministério Público em Portugal para impedir a saída das obras do país.

As ações judiciais foram justificadas com a "defesa do património cultural e dos bens do Estado".

Os peticionários defendiam a manutenção da coleção no país e um debate público sobre o seu valor e o destino a dar às obras, e Carlos Cabral Nunes chegou a obter a autorização do colecionador e empresário José Berardo para exibir as obras no museu, no Centro Cultural de Belém, mas a Parvalorem nunca autorizou a exibição.

Lusa