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Cinema e tecnologia: que futuro?

Para onde vão os filmes? Como é que as novas tecnologias estão a transformar os modos de conceber e fabricar o cinema? Eis um debate que vale a pena conhecer.

Ao contrário do que diz o senso comum, os chamados efeitos especiais pertencem a uma zona da produção cinematográfica muito mal conhecida do chamado “grande público”. Desde logo, por uma razão básica e objectiva: generalizou-se a noção de que os efeitos especiais são uma “invenção” do cinema digital do século XXI, assim se esquecendo que a manipulação das inagens, com resultados mais ou menos anti-naturalistas, é tão antiga como o próprio cinema…

Será preciso recordar as proezas absolutamente revolucionárias que Georges Méliès (1861-1938) concretizou há mais de um século, a começar por “A Viagem à Lua” (1902)? Isto sem esquecer que importa educar os espectadores no sentido de não reduzirem os avanços tecnológicos do cinema aos filmes de super-heróis — quantos desses espectadores saberão que “Irmãos Inseparáveis” (1988), de David Cronenberg, é um dos grandes momentos de viragem nos modernos efeitos especiais?

Vêm estas considerações a propósito de uma iniciativa da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas (a entidade que atribui os Oscars) que vale a pena conhecer. Assim, através do seu site de actualidades A.Frame, a Academia promoveu um debate, muito interessante e contrastado, sobre “O Futuro da Tecnologia Cinematográfica” (disponível no YouTube e inserido aqui em baixo).

Talvez possamos lembrar que o debate passa ao lado de uma fundamental questão prática e artística. A saber: como vai evoluir o trabalho dos actores, afinal a matéria humana sem a qual não é possível conceber mais de 100 anos da história dos filmes?

O certo é que por aqui passam temas, interrogações e especulações que, tal como quando surgiu o som (há mais de nove décadas), levam todos os criadores a formular dúvidas e hipóteses, tentando perscrutar o futuro. Entre os participantes estão, por exemplo, Ben Grossmann, especialista em efeitos visuais, Janet Lewin, da Industrial Light & Magic, e Jon Favreau, realizador das versões mais recentes de “O Livro da Selva” (2016) e “O Rei Leão” (2019). Podemos mesmo usar um cliché que, neste caso, tem toda a pertinência: o futuro é já hoje… O futuro dos filmes, pelo menos.