Cultura

Sessão de Cinema: “Crash”

James Spader e Holly Hunter em "Crash": inspirado no romance de J. G. Ballard
James Spader e Holly Hunter em "Crash": inspirado no romance de J. G. Ballard

É um dos títulos mais espantosos, e também mais polémicos, da filmografia de David Cronenberg — ganhou um Prémio Especial do Júri, em Cannes.

Por esta altura, o canadiano David Cronenberg é protagonista no panorama cinematográfico português: o seu filme mais recente, “Crimes do Futuro”, serve de abertura ao LEFFEST (10-20 nov.), chegando às salas do circuito comercial no dia 24. Eis um bom pretexto para revisitarmos “Crash” (1996), filme adulto e para adultos, por certo um dos seus trabalhos mais intensos e perturbantes que é também, obviamente, um dos momentos mais polémicos da sua filmografia.

Neste caso, Cronenberg colheu inspiração no romance homónimo do inglês J. G. Ballard, publicado em 1973. Em cena está um grupo de homens e mulheres marcados por uma obsessão que se confunde com um bizarro impulso mortal: o seu fascínio pelos acidentes de automóveis — literalmente: pelo choque (“crash”) — envolve estranhas componentes de natureza sexual.

Através do seu realismo muito vívido, “Crash” tem menos de crónica social e mais de parábola filosófica. Aquilo que está em jogo é, afinal, um tema transversal da civilização do século XX (com evidentes prolongamentos no século XXI). Ou seja: a relação muito íntima, por vezes sexual, do factor humano com o universo das máquinas. Não tanto por estarmos a ser “dominados” pelas máquinas, antes no sentido de essas máquinas contribuirem para baralhar os dados da própria natureza humana.

Através de um invulgar rigor de “mise en scène” — intensificado pelas contribuições fundamentais de Peter Suschitzky e Howard Shore (respectivamente director de fotografia e autor da música) —, Cronenberg tem ao seu serviço uma invulgar galeria de actores. São eles, nos papéis principais: James Spader, Holly Hunter, Elias Koteas (um “habitué” da obra de Cronenberg), Deborah Kara Unger e Rosana Arquette.

“Crash” foi distinguido com um Prémio Especial do Júri no Festival de Cannes de 1996. Rezam as crónicas que tal distinção foi atribuída por maioria, contra a opinião do próprio presidente do júri — era ele Francis Ford Coppola.

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