Cultura

Sessão de Cinema: “Viver”

Opinião

Memórias da década de 1950, um clássico do cinema do Japão
Memórias da década de 1950, um clássico do cinema do Japão

Nos Óscares está um filme, “Living”, inspirado em “Viver”, um clássico do cinema japonês — vale a pena redescobrir o original.

É muito provável que um dos títulos menos falados nas actuais nomeações para os Óscares seja “Living”, produção britânica dirigida por Oliver Hermanus, com Bill Nighy no papel central. Enquanto aguardamos pela sua estreia, vale a pena lembrar os talentos envolvidos, ambos nas nomeações da Academia: Bill Nighy, precisamente, candidato ao Óscar de melhor actor; e Kazuo Ishiguro (Nobel da Literatura em 2017), responsável pelo argumento adaptado, nomeado na respectiva categoria, tendo como base o filme “Viver” (1952), do japonês Akira Kurosawa.

Pois bem, a obra-prima de Kurosawa está disponível em streaming. Trata-se, aliás, de um título fulcral na evolução do seu realizador. É certo que o seu prestígio e, por assim dizer, a sua “imagem de marca” ficariam especialmente ligados a obras de fôlego épico como “Rashomon” (1950), “Os Sete Samurais” (1954) ou “Kagemusha” (1980). Seja como for, em vários momentos do seu labor há uma dimensão intimista, potencialmente trágica, de que “Viver” é um exemplo superior.

A nova versão com Bill Nighy situa a acção em Londres na década de 1950. No original, a época é sensivelmente a mesma, em qualquer caso marcada pelas convulsões do pós-guerra. A personagem central, empregado de escritório de uma grande empresa, é alguém que está cansado do peso burocrático e monótono do seu trabalho, tendo sido recdentemente surpreendido pela notícia de que sofre de uma doença grave…

Centrado numa brilhante composição de Takashi Shimura, nome lendário do cinema japonês, “Viver” resulta uma observação paradoxal, tão desencantada quanto cândida, das fragilidades da condição humana — o filme de Kurosawa possui, afinal, a riqueza de um objecto visceralmente ligado ao contexto social em que nasceu, o que não o impediu de se ter tornado um clássico intemporal.

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