A notícia da morte de Melinda Dillon passou quase despercebida em alguns meios de comunicação. Aliás, podemos, talvez, deduzir que a família terá desejado isso mesmo, isto é, que a sua divulgação fosse discreta e contida: faleceu no dia 9 de janeiro, mas o óbito só foi conhecido a 4 de fevereiro.
De alguma maneira, este "apagamento" parece ecoar a própria trajectória de Dillon: um talento invulgar que sempre se manteve com o estatuto de uma actriz secundária, disponível para as mais subtis formas de representação e transfiguração. Como outros profissionais da mesma geração — Dillon nasceu a 13 de outubro de 1939 na cidade de Hope, Arkansas —, adquiriu as bases do seu "know how" no teatro, tendo tido o seu papel de relevo numa encenação de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", em 1962, na Broadway.
No cinema, a sua interpretação mais célebre, em "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" (1977), de Steven Spielberg, valeu-lhe uma primeira nomeação para um Óscar. Voltaria a ser nomeada graças a "A Calúnia" (1981), de Sydney Pollack [trailer recordado aqui em baixo] — em ambos os casos como actriz secundária, precisamente.
Para lá de muitas participações em produções televisivas, vimo-la, por exemplo, no drama policial "F.I.S.T." (1978), de Norman Jewinson, no "thriller" fantástico "Combustão Espontânea" (1989), de Tobe Hooper, ou ainda, numa espécie de despedida simbólica do cinema (embora não tenha sido o seu derradeiro título), em "Magnólia" (1999), de Paul Thomas Anderson.
Apesar da qualidade das suas interpretações, nunca se impôs como "star", até porque, valha a verdade, não procurava a agitação das manchetes ou as ilusões das exposições mediáticas. A sua condição de secundária não era, no entanto, uma forma de marginalização — era, isso sim, a expressão de uma herança que é indissociável do classicismo de Hollywood. Que é como quem diz: o valor essencial de qualquer presença humana, por mais efémera, na elaboração narrativa de um filme. Ou ainda: o "star system" nunca se fez apenas com estrelas.