João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Sessão de Cinema: “Traições”

Baseando-se num romance do americano Philip Roth, o cineasta francês Arnaud Desplechin prossegue o seu cinema de desmontagem dos segredos das relações humanas.

Denis Podalydès e Léa Seydoux: um drama de inspiração literária.
Denis Podalydès e Léa Seydoux: um drama de inspiração literária.

Nascido em 1960, na cidade de Roubaix, Arnaud Desplechin tem na sua filmografia títulos tão originais como “Reis e Rainha” (2004), “Roubaix, Misericórdia” (2019) ou “Irmão e Irmã” (2022). Com um gosto especial pela observação das relações amorosas entre homens e mulheres, o seu trabalho remete para a herança de um certo romanesco, de inspiração literária, que encontramos em alguns autores da “Nouvelle Vague”.

Um bom exemplo do seu perfil criativo, com data de 2021, chegou recentemente ao streaming. Chama-se entre nós “Traições” e tem como título original “Tromperie” (qualquer coisa como “engano”, “traição”) — baseia-se num romance do americano Philip Roth, na origem “Deception” (“engano”, “decepção”).

Dito de outro modo: estão em cena as convulsões de uma relação amorosa vivida de modo mais ou menos clandestino. Ou ainda: este é o retrato de um escritor americano, de nome Philip (!), casado, que regularmente, em Londres, se encontra com outra mulher…

O drama clássico do “triângulo amoroso” vai-se transfigurando num estudo meticuloso, quase implacável, de um sistema de relações em que as traições de que fala o título português funcionam como matéria reveladora do inconsciente de cada personagem. Como sempre, Desplechin constrói toda a sua narrativa através de um delicado trabalho com os actores. “Traições” resulta, assim, um pequeno festival de representação, com inevitável destaque para os intérpretes que protagonizam o “exílio” londrino: ele é Denis Podalydès, ela Léa Seydoux.

Filmin