João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

O último filme de Quentin Tarantino?

Será que o realizador de “Pulp Fiction” se prepara para encerrar a sua obra cinematográfica? Algumas notícias provenientes de Hollywood sugerem que sim…

Quentin Tarantino e Margot Robbie durante a rodagem de "Era uma Vez em Hollywood" (2019)
Quentin Tarantino e Margot Robbie durante a rodagem de "Era uma Vez em Hollywood" (2019)

Quando é que um realizador de cinema decide retirar-se? E como é que organiza a sua retirada? No caso de Quentin Tarantino — que completará 60 anos no dia 27 de março —, uma coisa parece certa: as notícias provenientes da comunidade de Hollywood sugerem que o seu próximo título (10ª longa-metragem) será o derradeiro da sua filmografia.

E escrevo que tais notícias "sugerem" porque, de facto, não houve qualquer declaração oficial do próprio, ainda que Tarantino já tenha dado a entender que, depois de "Era uma Vez em Hollywood" (2019) — ver video sobre a rodagem — só deveria assinar mais uma produção para os circuitos cinematográficos. Dir-se-ia que tal hipótese tem vindo a ser "desenhada" através de várias derivações criativas — na certeza de que o abandono do cinema pode significar uma "transferência" para outros domínios, mais ou menos televisivos ou ligados às plataformas de streaming.

Tais derivações são os dois livros que Tarantino publicou: primeiro, em meados de 2021, um romance (uma "novelização", segundo a classificação americana) tendo como inspiração o filme "Era uma Vez em Hollywood", aliás conservando o mesmo título (disponível em tradução portuguesa, ed. Porto Editora); depois, em finais de 2022, "Cinema Speculation", uma sedutora antologia de memórias de alguns dos filmes que mais marcaram a infância e a juventude de Tarantino, tendo como referência inspiradora Pauline Kael (1919-2001), nome lendário na história da crítica cinematográfica nos EUA.

Dir-se-ia que Tarantino quer "fechar" a sua obra de modo a que os seus filmes (uma dezena, se tudo isto se confirmar) definam um corpo orgânico, quer no plano narrativo, quer enquanto singularíssima pesquisa formal. Afinal de contas, ele é um narrador nato, apostado em contar as suas histórias através de um elaborado cruzamento da herança do classicismo de Hollywood com os seus temas e obsessões. Curiosamente, foi precisamente como narrador (entenda-se: argumentista) que ganhou dois Óscares, em 1995 e 2013, com "Pulp Fiction" e "Django Libertado", respectivamente.

Entretanto, o pouco que se sabe (ou julga saber) sobre o "projecto final" é, no mínimo, sugestivo. Assim, a 10ª longa-metragem de Tarantino chamar-se-á "The Movie Critic", com acção situada em Los Angeles, na década de 1970. Quem é o crítico de cinema que o título refere? Será uma mulher e há quem aposte que a sua inspiração provém de… Pauline Kael.